quinta-feira, 3 de maio de 2012

Texto de Apoio ao professor - Memórias do Cárcere

·         ANL – PCB – NOVEMBRO DE 35.
A ANL, criada em março de 1935, fazia oposição ao regime de Vargas. O movimento fora inspirado em modelo de frentes populares que emergiram na Europa diante do avanço nazifascista. Tinham como ideologia a luta pela reforma agrária e a liberdade de políticas públicas. O ex-tenente e líder comunista Luís Carlos Prestes era o seu líder. A sua organização era formada por comunistas, socialistas e liberais que haviam se decepcionado com os rumos do processo revolucionário de 30. O filme inicia com imagens de Ramos no Palácio do Governo, em 1936, quando este ocupou o cargo de diretor da Instituição Pública de Alagoas, que segundo Tânia Neves, este cargo corresponde atualmente ao cargo atual de Secretário de Educação, no período de 1932 a 1936.



Com levantes em várias regiões do país, o movimento ganharia força com a greve que o operariado iria desencadear em todo o território nacional. O levante militar deflagrado na cidade de Natal, em 23 de Novembro. No dia seguinte, na cidade de Recife e no dia 27 de Novembro na cidade do Rio de Janeiro. Por fim, sem contar com a adesão do operariado e o movimento fora somente executado nas cidades de Rio de Janeiro, Recife e Natal. A rebelião foi rapidamente contida pelo governo e violentamente debelada. No filme, percebe-se a perseguição política por parte do governador de Alagoas em relação a Graciliano, após receber ameaças por telefonema e dois telegramas, este é demitido do cargo.


Após a frustração da rebelião, o regime de Vargas fez uma repressão sistemática não só contra os comunistas, mas sim aos opositores do seu regime. Foram presas em todo o país, milhares de pessoas, com todos sofrendo rigorosos processos judiciais e condenados a penas altas. O líder do movimento comunista da ANL, Luís Carlos Prestes, fora condenado a quase trinta anos de prisão.
Segundo Capelato, os revolucionários de 35 foram torturados e receberam penas altas, eram considerados subversivos e tinham que ser “suprimidos” da sociedade brasileira. No período do Estado Novo, as instituições penais possuíam uma dimensão de regime repressor e representavam os interesses do Estado acima das leis jurídicas.
No filme, Memórias percebemos a visão negativa dos comunistas propagandeada pelo regime Vargas, na cena em que uma parenta visita Heloísa, esposa de Graciliano, momento antes de sua prisão após a sua demissão. Os comunistas eram vistos como uma “encarnação do mal” e antipatrióticos.


O ano de 1935, segundo a pesquisadora Dulce Pandolfi, foi um momento de depuração da elite civil e militar vitoriosa em 1930. A partir de novembro de 1935, o poder Executivo ganhava amplos poderes ilimitados de repressão para praticar aos opositores do seu regime. Assim, a revolta comunista, serviu de pretexto para que o fechamento do regime fosse algo inevitado. No filme temos imagens de Graciliano com integrantes que foram capturados pelo regime Vargas no presídio no RJ, após serem recebidos ao cantar o hino nacional, como revolucionários do norte.





·         1937-1942 – INTEGRALISMO – NAZIFACISMO - DITADURA VARGAS.
O movimento integralista tinha alguns inimigos, como: o “capitalismo internacional”, o judaísmo, a maçonaria e o socialismo e foi responsável pela instauração do Estado Novo em 1937. A AIB tornara-se um aliado estratégico para a preservação do projeto político autônomo de Getúlio Vargas.
Um de seus líderes, Plínio Salgado, nasceu em São Bento de Sapucaí (SP), participou de forma secundária da Semana de Arte Moderna de 1922 e integrava os grupos Verde-Amarelo e Anta. Tornou-se um importante intelectual que possuía uma expressão política e cultural que debatia questões nos anos 20. 
O movimento integralista concedia uma importância para imagens e símbolos.  A denominação Ação Integralista Brasileira, desvinculava a sua imagem a ideia de partido, algo que era característico do sistema político democrático e liberal. Como proposição defendia a submissão da massa ao chefe supremo e tentava ser visto como um representante da sociedade e de interesses particulares. O Anauê, é um exemplo disso. No filme Memórias temos imagens da marcha de militantes integralistas.






A formação de uma organização burocrática e totalitária dentro do movimento integralista distanciava-se das práticas políticas realizadas durante a República Velha. Uma sociedade hierarquizada, militarizada e disciplinada em todos os aspectos da vida de uma pessoa, demonstrava um modelo de Estado integral a ser exemplo para a sociedade brasileira.
O surgimento da AIB aconteceu dentro de uma década de polaridades entre comunistas e fascistas e de crítica ao sistema político de cunho liberal e democrático. O movimento surge dentro da classe média, que fora beneficiado com o crescimento de empregos nos Estados e que não concordavam com os rumos da política brasileira e se sentia atraída pelos desfiles integralistas.
A AIB realizou em 1936 um Congresso Nacional Feminino, no Rio de Janeiro, e uma convenção Trabalhista, em São Paulo, em 1937. A reunião das mulheres tinha como o lema “Crer, obedecer e preservar”, e possuíam várias funções dentro da AIB como: dedicar-se as famílias e lares, procriar e educar crianças cristãs e patrióticas, proteger os lares contra o comunismo e cultivar os valores “femininos” como obediência, amor, sacrifício e pureza.
            A construção e o fortalecimento do Estado integral era o objetivo da revolução integralista, na visão de Plínio Salgado. A constituição de um estado integral seria criada após ser superado o estado entre a dualidade religião e ateísmo, materialismo e espiritualismo, bem e o mal. O indivíduo era subordinado ao Estado e seria mobilizado para responder as necessidades do Estado.
“Através do lema “Deus, pátria e família”, um forte caráter nacionalista e autoritário, o movimento integralista brasileiro visava criar um Estado Integral que tivesse na família a sua base, em Deus a sua moral e na pátria o seu objetivo e organização.”
(Revista de História da Biblioteca Nacional. Ameaça Fascista? O integralismo ontem e hoje. Ano 6. Nº 61. Outubro 2010).
Para a AIB havia um modelo de estado brasileiro, que era compatível com uma suposta originalidade brasileira construída sobre o mito da “cooperação das massas”. Para isso, era necessário buscar as raízes autênticas do Brasil. O “Brasil puro” estaria no interior, no sertão, algo longe da colonização e do mundo moderno que fora representado pelo litoral brasileiro.
            Dentro do ideário fascista, a concepção de conflito como algo que não fora construído a partir da vida social e devia ser superado, com um Estado forte. A vida em sociedade era caracterizada por um sistema corporativo e hierarquizada, enquadrado dentro de uma disciplina rígida. O Estado Democrático e liberal era visto como desagregador e fraco, que não defendia os interesses nacionais, culturais e econômicos da sociedade. Para combater os perigos da sociedade, a AIB organizou uma vigilância de estrutura e de controle. O caráter autoritário do tenente que pede para que Graciliano Ramos, na época Diretor da Instituição Pública de Alagoas, aprove a sobrinha dele demonstra como as leis são frágeis no fim dos anos 30, o mesmo tenente conduz Graciliano a prisão em Recife.





·         ESTADO NOVO – REPRESSÃO – DIP.
A DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) foi utilizada pelo governo para fazer a montagem da propaganda oficial e difundir a ideologia do novo regime diante das camadas sociais. Em 1937, quando se tenta fazer uma repressão a Intentona Comunista o governo faz um sistema articulado de “educação mental, moral e higiênica” que integra a necessidade de associar o rádio, o cinema e esportes. Em vários estados o DIP estava subordinado ao Rio de Janeiro, como um fator de modernidade, que tinha como característica os princípios de eficácia e racionalidade.
No filme, diante da sequencia da passagem de Graciliano pelos presídios e no porão do navio podemos perceber as condições sub-humanas em que viviam os presos políticos e comuns. A mais degradante cena, é a convivência entre os presos na Colônia Correcional. Com precárias condições de higiene, uma alimentação péssima e com pesados trabalhos braçais.







Podemos perceber no filme o autoritarismo do Governo Vargas na figura do carcereiro, que reduz a condição humana a animais. Os comunistas, assim como outros setores da sociedade brasileira, não possuíam o perfil de “nação” que fora criado por Vargas e foram conduzidos a categoria de “inimigos” que tinham que ser eliminados da sociedade. Diante de condições desumanas e a inferioridade criam um ambiente hostil na carceragem, como podemos perceber no trecho a seguir do carcereiro:
Aqui não há direitos ! Escute bem, nenhum direito.
Aqueles que eram grandes esqueçam-se disso.
Aqui não há grandes, tudo igual.
Aqueles  que tem protetores, esses ficam lá fora,  aqui não!”.
Vocês vieram aqui para morrer, tão ouvindo., vocês vieram para morrer.”
Os pilares que sustentava o Estado Novo eram a organização da propaganda e a repressão. Houve no período de 1937-1945 prisões, torturas, exílios e censura que atingiram tanto considerados como subversivos (comunistas, anarquistas e socialistas) como os opositores liberais do regime. No filme , quando Olga Benário é deportada para a Alemanha nazista, Ramos está presente no presídio do RJ. Fica evidente, o compromisso ideológico do diretor do filme com o comunismo, marcando uma espécie de cumplicidade ou solidariedade aos perseguidos políticos, comenta Serva.






Não só os subversivos comunistas, mas também os nazistas foram alvo de perseguições do Estado Novo que colocou o movimento na ilegalidade. A entrada do Brasil ao lado do Eixo intensificou a prática de perseguição de Vargas aos seus opositores. Neste contexto, não só os nazistas, mas também os alemães passaram a ser visto como inimigos da Pátria. No filme, aparece uma excelente comunicação entre os presos políticos, a criação da rádio libertadora dentro do presídio faz uma breve comunicação entre os encarcerados sobre a situação política do Brasil e alguns fatos que acontecem no período, demonstrando que não aceitavam passivamente o regime ditador de Vargas.


  • HISTÓRIA – LITERATURA – MEMÓRIA  - CINEMA  NOVO.




O filme homônimo Memórias do cárcere, que pretende ser uma representação fiel do livro Memórias do Cárcere, apresentando uma visão de mundo semelhante ao apresentado por Ramos em seu livro.  Ao fazer um diálogo entre dois momentos repressivos da História do Brasil, 1937 e 1964, o diretor do filme pretende tecer um relação diálogo-temporal em Memórias  Segundo Serva, o filme de Nelson Pereira dos Santos encerra um diálogo entre filme e política,  diante do contexto de redemocratização e abertura política.
            O Cinema Novo que ao abordas as questões sociais do Brasil propunha uma visão realista.  Teve em Nelson Pereira um importante divulgador da sétima arte, que após o golpe de 64, investe em produzir filmes que retratam o momento político e econômico brasileiro, assim como, refletir sobre o papel da intelectualidade na sociedade brasileira. Segundo Sidney Leite,  as  características dessa fase do cinema brasileiro: a utilização da câmera na mão, a flexibilidade relativa ao roteiro, o engajamento político de seus realizadores, a precariedade do material e a influência da literatura realista pelos regionalistas.
            A importante reflexão que torna o filme Memórias algo interessante, é a sua veracidade na distância temporal das narrativas que são construídas a memorialística (1946) e a cinematográfica (1983), sobre os fatos que ocorreram no Brasil após o fracasso da Intentona Comunista. Segundo Dutra, essa percepção permite-nos apreender o significado do que o historiador define como “sentido histórico”. Com isso, percebendo como a narrativas de Graciliano Ramos e a de Nelson Pereira apesar da distância temporal construíram suas interpretações sobre os episódios de 1936 com uma força de realidade.
            Os livros assim como o filme Memórias tentam elaborar um olhar histórico sobre os fatos de 1936, A personificação do Cárcere, na realidade social da época permite fazer uma leitura com o período vivido pelo Brasil na Ditadura militar. A prisão se torna uma momento de luta contra os seus próprios preconceitos, na medida em que Ramos convive com diferentes setores da sociedade, como: a classe média militar, a mulher, o negro, o ladrão, o homossexual,  o prisioneiro comum. A metáfora da prisão marca através da historicidade um retrato de um país moldado pelas desigualdades sociais e pelo poder centralizador das elites.

Bibliografia.

Vianna, Marly. O PCB, a ANL e as insurreições de novembro de 1935, In: FERREIRA, Jorge, DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Orgs). O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado novo. v 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Revista de História da Biblioteca Nacional. Ameaça Fascista? O integralismo ontem e hoje. Ano 6. Nº 61. Outubro 2010.
Maio, Marcos e Cytrynowiz. Ação Integralista Brasileira: um movimento fascista no Brasil (1932-1938). , In: FERREIRA, Jorge, DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Orgs). O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado novo. v 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Capelato, Maria. “O Estado Novo: o que trouxe de novo”. In: FERREIRA, Jorge, DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Orgs). O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado novo. v 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Ferreira, Jorge. A História vai ao cinema. 3ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2008.

Leite, Sidney Ferreira. O cinema Brasileiro: das origens a retomada. 1. Ed. São Paulo: Fundação Perseu Ábramo, 2005.

Davi, Tânia Nunes. Cinema e História: Representações do autoritarismo em Memórias do Cárcere de Nelson Pereira dos Santos. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Abril / Maio/ Junho de 2007 Vol. 4 Ano IV nº 2.

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