sexta-feira, 11 de maio de 2012

Resenha - Os anos JK: uma trajetória política.

Os Anos JK: De Getúlio a Juscelino, o Brasil no Cinema.


Um Filme de Silvio Tendler. 

Os Anos JK - Uma Trajetória Política, primeiro longa-metragem de Silvio Tendler, satisfaz de um lado a necessária e quase vital fome de imagens que temos de nosso passado, recuperando um segmento da história brasileira e, de outro lado, procura trazer - de forma às vezes didática - um espírito de conciliação política que acredita ser útil nos nossos dias. E, como se houvesse uma linha que o ligasse aos seus similares antecessores Getúlio Vargas de Ana Carolina e O Mundo em que Getúlio Viveu de Jorge Ileli, assume a linguagem da personalidade que escolheu como objeto de análise, embora isso se faça a partir de uma perspectiva crítica - nem sempre justa - dos acontecimentos.
Dirigindo-se aos mais jovens, segundo palavras dos seus realizadores, esses filmes pretendem dar àqueles que não viveram uma época da nossa história a medida de emoção que os livros nem sempre preservam, por meio da magia das imagens recuperadas ao tempo.  É por isso que a sua posição diante dos fatos não pode ser fria ou neutra, eles terminam sendo como que contagiados pela força das imagens e de seu fascínio e o tempo redescoberto resulta ainda mais intenso do que se tivesse sido efetivamente vivido. No Brasil, onde a memória é permanentemente escamoteada, toda tentativa de recuperação de um segmento de nosso acervo histórico transforma-se numa aventura quase épica, o que contagia não apenas a disposição daqueles que dela participam como acaba se incorporando ao seu próprio discurso. Daí porque nem mesmo a suposta objetividade factual que Jorge Ileli inscreve como epígrafe de seu filme escapa à adesão do cineasta ao político, que é visto amavelmente como estadista e um homem que soube interpretar o seu tempo. Num caminho diverso e professando uma adesão ainda maior ao seu personagem, o mesmo Getúlio Vargas, Ana Carolina enfatiza o seu compromisso político com os mais pobres, os obstáculos que lhe foram opostos e a grandeza histórica do seu gesto de sacrifício pessoal.
Juscelino em posse presidencial, em 1956.
É claro que essas posições refletem também — além do envolvimento pessoal dos diretores com seu personagem — uma tomada de posição ainda mais ampla, num momento da vida política brasileira em que as lideranças se encontravam completamente ofuscadas. Retomar uma figura morta há vinte anos, que emergiu da República Velha para se tornar por mais de duas décadas a mais importante personalidade da nossa vida pública, implicava também um projeto para o futuro: o sacrifício de Vargas interrompeu um processo político do qual sua Carta-Testamento ainda continua sendo o programa mais claro e contundente. Ana Carolina e Jorge Ileli acreditavam então estarem propondo a continuação de um debate que — embora tivesse sido suspenso — não está de maneira alguma encerrado.
No nível da linguagem do cinema e correspondendo a um contexto político mais abrangente, este debate continua agora com Os Anos JK, não mais segundo a perspectiva do populismo gaúcho e trabalhista de Getúlio, mas sob a ótica do populismo mineiro e pessedista de Juscelino, que o sucedeu como presidente e líder. JK não deixa um testamento político explícito - sua morte foi inesperada e o colheu num momento em que ele próprio se acreditava com possibilidades de voltar à vida pública — mas lega uma imagem bastante contemporânea: a de um Brasil moderno que ele ufanisticamente ajudou a forjar no curso de seu exercício presidencial. Uma das características dessa imagem se traduz na persistência e continuidade da política de conciliação que certamente ficará como a marca do estilo pessedista, tema que o filme de Silvio Tendler assume em um dos seus desdobramentos: a anistia aos sublevados. Nesse momento, Os Anos JK deixa de ser um fenômeno especificamente cinematográfico, bastante meritório por sinal, já que realiza a irrefutável vocação do cinema - ao recuperar e/ou preservar o tempo e demonstra respeito ao som e à imagem - para se colocar no curso da nossa história, trazendo do passado, senão um programa, ao menos um estilo que possa servir de modelo para a política de abertura que está sendo posta em prática.
Juscelino prefeito de Belo Horizonte, em 1941.
No entanto, essas proposições não poderiam ser meramente discursivas. Elas necessitam da força das imagens sem as quais se transformariam em simples retórica: é assim que esse estilo pode se manifestar através daquele que lhe deu a sua forma mais aprimorada: o fenômeno JK. A princípio, nós não vemos o personagem principal do filme, que começa com a promulgação da Constituição de 46, mas aos poucos aparecerá a figura do prefeito de Belo Horizonte que não hesitou em chamar dois comunistas para trabalhar na construção da Pampulha e transformou o projeto em plataforma para chegar ao governo do Estado de Minas Gerais. Terá sido um simples ato de carreirismo? Ou estamos diante do carisma de um verdadeiro líder político? Sabemos hoje que a escalada não pára no Palácio da Liberdade, sede do Governo mineiro. Ela se dirigirá rumo ao Catete e, apesar de golpes e contragolpes, chegará à Presidência. Será preciso a intervenção de um Ministro da Guerra de pulso forte, o general Lott, que irá evitar a mudança do quadro institucional com o contra-golpe de novembro de 1955. Diante de poderosas forças políticas de oposição, JK lança mão do seu repertório forjado no aprendizado com Benedito Valadares, velho cacique mineiro, e com o próprio Getúlio. Seu estilo de pregação será o programa de uma verdadeira união nacional em torno de uma ideologia desenvolvimentista que promete fazer o Brasil saltar cinqüenta anos em apenas cinco anos de Governo.
Para consolidar este futuro, JK promete a construção de uma nova capital, que será erguida no coração do país. E, assim como a construção da Pampulha mudou a face da capital mineira, Juscelino acredita que Brasília mudará a face do Brasil. Oscar Niemeyer é novamente convocado para, por meio de suas linhas revolucionárias de arquitetura, projetar a nova capital como símbolo de uma nova nação. Seria essa posição de JK apenas a demonstração da predominância de velhos ranços regionalistas? Ou estaria aí contida uma proposta de messianismo de face nacional e institucional? Ê certo que o clima juscelinista de governo, ditado pelo seu comportamento político grandiloqüente e ao mesmo tempo descontraído, será marcado pela euforia, um verdadeiro porre — como lembra um depoente — mas sempre identificado com um estilo de brasilidade, que é a verdadeira condição de seu populismo.
Na trilha desta trajetória, Silvio Tendler se serve de um repositório de imagens que nossos olhos se desabituaram a ver: cenas de antigos jornais de atualidades mostrando políticos em cenas de inaugurações, visitas diversas, comícios etc..., que foram sendo eliminadas das telas dos cinemas desde que as vaias começaram a se tornar muito incômodas, e hoje preenchem as telas dos aparelhos dos nossos televisores. Essas imagens terminam por provocar um sentimento de ironia porque apesar do constante solapamento de nossa memória e do progressivo esquecimento de nossa identidade decorrente da negação do nosso passado, somos forçados a constatar que os protagonistas de nossa cena política são praticamente os mesmos há três décadas. Ao longo dos jornais de atualidades, desfilam rostos muito familiares, que podem ser perfeitamente entrevistos por trás da máscara que o tempo constrói.
Apesar das sucessivas reviravoltas de nossa política - principalmente até 1964 - reconhecemos que as ideologias em luta pelo poder não apenas continuam as mesmas como seus representantes - com raras exceções - ainda permanecem no velho palco de nossa cena institucional. De Tancredo Neves ao general Ernesto Geisel, passando por Afonso Arinos, Jurandir Bizarria Mamede e Mourão Filho - para citarmos somente alguns - o filme mostra como inúmeras personalidades participaram do nosso drama político, algumas vezes começando como figurantes e passando a atores secundários, para terminarem como estrelas máximas, prima-donas de nossa ópera política. Curiosamente, ao longo da trajetória política de Juscelino Kubitschek desfilam vários personagens que serão elevados do ostracismo ao primeiro plano. O filme de Silvio Tendler sacia então um pouco a nossa fome e sede de imagens, arrancando-as à imobilidade museológica onde, propositalmente ou não, elas tinham sido confinadas. Para isso, foi certamente necessário um trabalho de paciência e tenacidade que se estendeu por mais de três anos, o que pode lhe ter sido prejudicial e tê-lo frustrado em um dos seus melhores e mais explícitos objetivos: sua proposta política.
Inauguração de Brasília, 21 de Abril de 1960.
A documentação de que Os Anos JK se serve nem sempre é vasta e uniforme e procura centrar-se na figura do político que escolheu como objeto de análise. Deixa, portanto, algumas lacunas na abordagem do processo histórico e social em que JK atuou como presidente, especialmente na visão das questões operárias e da reforma agrária, que não são tratadas como deveriam. No entanto, detendo-se mais sobre o caráter político da personalidade de Juscelino, o trabalho de Silvio Tendler extrai o estilo básico de seu comportamento: o espírito de conciliação política, a capacidade de amenizar conflitos partidários, diluir tensões sociais, fazer concessões, conceder perdões e, sobretudo, de manter viva — através de um constante otimismo — a chama da ideologia do desenvolvimentismo e o carisma de seu condutor. Enfatizando o viés carismático de seu discurso, fazendo confluir para a personalidade magnética do seu biografado o processo político brasileiro, o diretor prolonga o debate posto nas telas pelos filmes de Ana Carolina e Jorge Ileli e ao herói sacrificado de Getúlio Vargas e O Mundo em que Getúlio Viveu, personalista, autoritário, paternal e que tarde descobre o jogo multinacional de interesses que o envolve, propõe o político ardiloso - isto não quer dizer que Getúlio o era menos - de formação tipicamente urbana – no que se contrapõe a Getúlio, um produto da aristocracia rural gaúcha - e de espírito mais formalmente democrático, possuidor de um incrível talento para conseguir seus objetivos através da persuasão, características que compartilhava com o autoritário Getúlio. Uma simples mudança de estilo, talvez? Não apenas isso, por certo já que Juscelino procurará recolocar o Brasil no caminho dos países ocidentais capitalistas — o que nem sempre pareceu claro no período getulista — mas seu mérito reside no fato de que soube conduzir seu governo num clima de maior abertura política, onde não faltou até mesmo uma ampla, geral e irrestrita anistia política aos participantes dos movimentos direitistas de Aragarças e Jacareacanga.
            Esse claro gesto de conciliação, sinal de um espírito livre de rancores para com os adversários, constitui o legado juscelinista para o atual momento brasileiro e essa seria certamente - não fosse o atraso no lançamento - a bandeira com a qual o filme, e por extensão o próprio cinema brasileiro, estaria participando do processo de distensão política que está em curso. Assim como o filme Getúlio Vargas, à época do seu lançamento em 1974, procurava recolocar a atualidade da Carta-Testamento, recordando a permanência dos mesmos problemas e a constante necessidade da luta pela integridade nacional denunciados no documento, e o fazia num instante de intensa desnacionalização da nossa economia, Os Anos JK - Uma Trajetória Política traz dos arquivos quase esquecidos e mal conservados do nosso passado a imagem de um dirigente conservador no plano social, excessivamente aberto ao capital estrangeiro no plano econômico, mas que atuava no campo político de forma democrática, a ponto de ter conseguido passar este sentimento a todo um país durante os cinco anos de seu período. Mesmo não tendo chegado no momento do debate em que sua participação teria sido mais oportuna, o filme de Silvio Tendler retoma a importância às vezes esquecida do cinema como veículo de discussão dos problemas do nosso país. Num plano mais particular, sabemos que houve um quase desaparecimento do cinema de debate mais especificamente político em anos passados, mas a existência de um filme como Os Anos JK lembra, com insistência quase hipnótica, o poder irrefutável das suas imagens arrancadas ao rio do tempo de Heráclito, onde não nos banharemos duas vezes, mas que servem para nos mostrar o que fomos e como somos, no palco onde desfilam algumas das contínuas expectativas do povo brasileiro e os persistentes interesses dos mais fortes.
Juscelino e Carlos Lacerda, exilados políticos em 1964.
A força dessas imagens — que devemos preservar cada vez mais com atenção e carinho — não tem apenas um valor para historiadores, sociólogos, jornalistas ou quaisquer outros eventuais interessados, mas são como que uma fenomenologia do nosso modo de ser. Uma vez, numa conversa, Nelson Rodrigues falava, com aquela sua linguagem peculiar, que "no cinema, depois de dez anos, tudo fica perto do delito atroz: o sorriso do bandido, toda a gesticulação". E observava:
– É uma coisa muito espantosa. E a gente pensa: nós não somos assim. Mas, realmente, nós somos assim.
            As imagens do nosso passado, que frequentemente descobrimos como coisa nunca vista, permitem, como lembrou Nelson Rodrigues, olharmo-nos de frente como se estivéssemos num espelho. Mas, se elas representam um precioso acervo para o nosso conhecimento histórico, trazem também o incrível encanto do detalhe, aquele "sorriso do bandido" de que falou o escritor, o flagrante que faz a delícia do fotógrafo, o momento em que a pessoa cai e a câmara registra a reação em seu rosto. Anos de censura baniram de nossa visão essas imagens que estavam mais próximas da escala humana com a qual devemos julgar nossas figuras públicas. Recuperadas no filme de Silvio Tendler — e na verdade elas são apenas uma parte de um acervo ainda inexplorado — evidenciam precisamente a presença do cinegrafista como um olho atento aos acontecimentos de nossa história. Rendem, portanto, tributo ao homem da câmara que, como queria o inventor Dziga-Vertov, deve ser um agente da "decifração documental do mundo visível". Sem depreciar o valor do texto de Cláudio Bojunga, às vezes didático e com boa dose de ironia, embora soe freqüentemente como uma reescritura dos livros de Hélio Silva, o filme de Silvio Tendler recompõe - além da própria personalidade de JK e seu brilhante estilo político - o valor das imagens de nosso passado. Voltando a Vertov: "nada de documentos-palavra, só cine-documento".                                                                                       

SIQUEIRA, Sérvulo. Os Anos JK: De Getúlio a Juscelino, o Brasil no Cinema. Revista Filme Cultura nº 37, Jan/Fev/Mar 1981.



terça-feira, 8 de maio de 2012

Texto de Apoio ao professor - Soldados da Borracha.

Ciclo da Borracha –– 1º Boom da Borracha –– 1ª imigração Nordestina.

O chamado “ciclo da borracha” é hoje um dos mais importantes episódios da história econômica da Amazônia e pode ser dividido em dois momentos:
·         1º Boom da Borracha – (1850-1914).
·         2º Boom da borracha –(1940-1945).
A borracha é uma goma elástica extraída da seringueira (Hevea Brasiliensis). Enquanto produto comercial, a borracha adquiriu importância a partir do desenvolvimento da atividade automobilística e acabou por promover uma grande expansão na colonização da Região Norte e grande impulso econômico e cultural às cidades de Belém e Manaus. A grande demanda no mercado internacional fez da Amazônia a grande exportadora da goma elástica, segundo afirma a historiadora Cristina Wolff:
“Até 1880, a Amazônia foi o único fornecedor, sendo suplantado então pelas plantações de seringueiras Asiáticas, que desencadearam a crise do preço da borracha”. [1]

O 1º Boom da Borracha chegava ao fim, mas as transformações no espaço Amazônico foram significativas, pois a intensificação das atividades econômicas relacionadas à extração da borracha gerou uma necessidade crescente de mão de obra para o trabalho extrativo e como  solução o governo estimulou a imigração de famílias nordestinas para a região, a fim de suprir essa necessidade.
Muitos Nordestinos se dirigiram para a região, alguns muito jovens, perseguindo o sonho de uma vida melhor. O término desse primeiro ciclo da borracha não só destruiu sonhos como fez aumentar na Amazônia e em toda a região Norte os problemas econômicos e sociais devido ao inchaço populacional provocado por essa primeira migração Nordestina.

Segunda Guerra Mundial –– Governo Vargas –– Pan-americanismo.
Em 1939, explode a segunda guerra mundial dividindo as nações do mundo e dispondo-as em alianças militares opostas: de um lado os Aliados (União Soviética, Estados Unidos, França e outros), de outro lado o Eixo (Alemanha, Itália, Japão).
No Brasil vivíamos a ditadura Varguista e o governo optou pela neutralidade durante um tempo, ainda que Vargas tenha se mostrado simpático ao regime nazifascista, como comprovam tanto a historiografia quanto os filmes que já assistimos (Olga e memórias do Cárcere), todos baseados em livros.
O ataque dos japoneses à Pearl Harbor forçou a entrada dos norte-americanos na guerra, em 7 de dezembro de 1941 e a ocupação da Malásia pelos japoneses deixou os EUA em uma situação critica já que os norte-americanos dependiam da borracha que a Malásia produzia como podemos perceber no filme “ Borracha para a vitória” em uma das falas do nordestino Hélio Pinto da Silva.
“Os ingleses levaram a semente aclimataram e plantaram na Malásia há muitos anos, e ai quando foi na segunda grande guerra, eles eram os maiores produtores da borracha. Os Japoneses eram aliados dos alemães e tomaram à Malásia, e os ingleses aí ficaram sem borracha e os aliados também. Aí recorreram ao Brasil que era o único produtor.”




[1] WOLFF, Cristina Scheibe. Mulheres da floresta: Uma História: Alto Juruá, Acre (1890-1945). São Paulo: Hucitec, 1999.

Diante disso, a saída era criar um mercado alternativo, assim o Brasil surgiu como uma opção para os Estados Unidos, por possuir um histórico de extração e áreas promissoras. O Brasil, ou melhor, a Amazônia, representava o Eldorado latino-americano, os norte-americanos acreditavam que a borracha brasileira os salvaria da crise, garantiria a estabilidade econômica e contribuiria para integrar toda a América Latina (pan-americanismo). Então, como fosse oportuno para o governo Vargas e interessante para os norte-americanos, o Brasil assinou com os EUA os acordos da borracha, que de acordo com o historiador Seth Garfield:
“eram estratégicos para os Estados Unidos, porque tinham como objetivo a oferta de aconselhamento técnico e de equipamentos para aumentar a produtividade de uma commodity que o país não produzia e da qual necessitava para atender suas necessidades básicas.” [i]
Para o Brasil a assinatura dos Acordos de Washington em março de 1942 foi providencial, pois os gastos para financiar a produção e a exportação da goma elástica ficaram sob-responsabilidade dos Estados Unidos, que também se comprometeram a subsidiar a migração de milhares de nordestinos pra compor a mão de obra necessária para o esforço de guerra. O governo Vargas garantia ainda o capital necessário para implantar a indústria siderúrgica no país e financiar a compra de material bélico para equipar o exército brasileiro, e resolvia ainda dois grandes problemas: a ocupação dos vazios geográficos e a questão da seca no Nordeste. O Brasil entrava definitivamente na Guerra ao lado dos Aliados.
A Ruber Reserve Company era a agencia norte-americana responsável pelo controle da produção e exportação da borracha e, segundo os Acordos de Washington, ela investiria 5 milhões de dólares na região Amazônica, enquanto o governo brasileiro investiria 10 milhões de cruzeiros. Vargas esperava controlar o capital norte-americano que entrava no país, mas os EUA detiveram o controle mesmo diante das reações do governo Vargas.
2º Boom da Borracha –– 2ª Migração Nordestina –– Soldados da Borracha.
Trocando a enxada pela faca de seringa, e a aridez do sertão pela floresta estima-se que cerca de 100.000 nordestinos vieram para a Amazônia, seduzidos por uma propaganda extravagante, expulsos pelos flagelos da seca ou recrutados sob pressão do exército. Podemos perceber como se dava a vinda para a Amazônia a partir da fala de alguns desses nordestinos que vieram mobilizados por alguns desses motivos.
Lupércio Freire Maia – Morada Nova (CE):

Eu tinha já de os 17 pra os 18 anos. Aí eu tava mais o papai, aí chegou um cumpade do papai e foi e disse: Cumpade, cê tem cuidado que o americano tá pegando toda essa rapaziadinha e tá levando tudo. Aí foi eu tava alimpando um feijão de corda mais o papai, aí ele disse: Ei, vem cá. Aí papai foi e soltou a enxada e eu soltei e vim. –– suba aqui no caminhão. Papai disse: Não, ele num vai agora não, vai depois. Não aqui num tem negócio de depois não, vai agora.” 
Alcindo dos Santos – Petrolina (CE)

“Me alistei em Petrolina à 3 horas da tarde, quem me alistou foi um capitão do exército 7º Batalhão de Engenharia, dizendo ele que eu tinha que vim pra qui, pra Amazônia ou antonce ia pros campo de batalha, na época da II Guerra Mundial. Preferi vir pra Amazona. Não vim com boa vontade, que deixei a minha velha mãe, me pediu quando tava os alistamento que pelo leite que eu mamei nos peito dela, eu não viesse pra Amazona.” 
Hélio Pinto Vieira – Canindé (CE)

“Meu pai era prefeito né, e eu trabalhava lá numa casa comercial da nossa família, não tinha necessidade de nada, que nóis tinha propriedade, fazenda, tudo. Fui por espírito de patriotismo, como voluntário.”
Vivencia Bezerra da Costa – Alto Santo (CE)

“Chegou lá no Alto Santo uma lista pros rapaz de maior vim tudo pa Fortaleza pela SEMTA né. A SEMTA num é que nem migração. Migração que nóis viemo é família e a SEMTA é só rapaz né, fica naquele pouso. Aí minha mãe foi e começou a chorar, aí disse: Chico Antonio, meu filho nunca pegou numa arma, meu filho vai morrer issassini, e vão levar meu filho pra guerra, eu também num fico mais aqui, se você quiser também ir pro Acre, pro Amazonas, vum borá que eu também num fico mais aqui não.
O Nordeste vivenciou uma seca voraz nos anos de 1942e 1943, fato esse que fica evidente no filme na fala desses dois personagens:
Fco. Jonas Bandeira – Natural de Morada Nova (CE)

“Em 1942, eu plantei um terreno que eu tinha preparado lá, plantei 13 quilos e meio de caroço de algodão bem regadorinho, limpei, jeitei tudo com maior sacrifício, tanto trabalho, apanhei 6 quilos de algodão. Não houve inverno em 42. Aí eu disse assim: eu nunca mais eu planto no Ceará. Já tinha esse desejo e de pra isso, quando surgiu essa história do soldado da borracha eu digo é agora.”
José Pio de Lima – Natural de Limoeiro do Norte (CE)
1940 um grande inverno, aí veio 41 e 2 e 3
foi ano de pouca chuva.

Jean Pierre Chabloz foi um pintor e desenhista suíço, que foi arregimentado pelo governo Vargas para trabalhar na campanha da borracha. Ele fazia os cartazes que promoviam a Amazônia, que a mostravam como um paraíso, um lugar para fazer fortuna. Foi esse trabalho de propaganda, podemos dizer que “enganosa”, que convenceu milhares de nordestinos a deixar sua terra para vim trabalhar nos seringais da Amazônia. Esses nordestinos vinham recrutados para trabalhar nos seringais como “soldados”, pois a borracha produzida por eles iria garantir aos Aliados a vitória na guerra.



A campanha do governo Vargas era forte e sedutora, mas a realidade nos seringais era bem diferente daquela que os cartazes mostravam. As condições de viagem eram bastante desconfortáveis, vinham em caminhões lotados do Ceará ao Maranhão, daí para os porões de navios até chegarem ao Pará. Do porto de Belém, no Pará seguiam rumo aos seringais. Então, eles deparavam, com a pior etapa da viagem. A vida nos seringais era dura e solitária, as seringas eram muito distantes, o que dificultava uma produção elevada. O seringueiro já chegava endividado porque tinha que comprar do patrão ou seringalistas as ferramentas que necessitava para trabalhar e as dividas só aumentavam: comida, roupa, arma, remédio, etc.
Tudo era vendido a preços altíssimos dentro do “sistema de aviamento”, ou melhor, de endividamento, para que as dívidas se tornassem uma prisão para o seringueiro, algemas invisíveis para um exército de soldados enganados. Voltar para casa se tornou um sonho distante, pois segundo o seringueiro Raimundo Nonato de Lima, natural de Jaguaruana (CE), o contrato com a SEMTA esclarecia:
 “No contrato eu me lembro bem de um item: que tinha, que dizia: que ninguém podia abandonar o seringal com débito...O seringalista tinha aquela segurança né, segurança que o cara podia morrer devendo mas sair devendo não podia, que se tinha que morrer não tinha que pagar, pronto morreu acabou”
O SEMTA (Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia) era um órgão federal criado pelo governo e financiado pelo governo Norte- Americana. O SEMTA era responsável pela imigração para a Amazônia, fazia o recrutamento e fornecia aos recrutas o contrato de encaminhamento para ser assinado por eles. Os soldados escolhiam entre ir pros seringais ou lutar na guerra.
Os soldados recrutados pelo SEMTA vinham sozinhos, deixando para trás suas famílias, e de acordo com o contrato de encaminhamento podiam optar pela assistência que o SEMTA oferecia às famílias, o que muitos fizeram. Segundo Verônica Secreto:
“Muitas mulheres e filhos desses trabalhadores permaneceram nos seus lugares de origem ou nas hospedarias improvisadas, esperando o momento para empreender, também elas, viagem que as levaria ao encontro de seus maridos, ou aguardando o retorno destes ao termo de dois anos de ingresso no seringal.” [i] 
A urgência da guerra fez com que a ideia de povoamento do governo Vargas fosse substituída pelo de recrutamentos de homens sozinhos para produção da borracha necessária ao esforço de guerra. Embora existisse um contrato que pretendia evitar os abusos cometidos durante o 1º Boom da borracha, não existiu fiscalização efetiva que pudesse garantir aos soldados da borracha os direitos implícitos nesse contrato.
Os únicos fiscais foram os próprios seringueiros, suas mulheres e familiares. O próprio SEMTA que havia se responsabilizado por fornecer assistência dos familiares dos recrutas, suspendeu esse auxilio em junho de 1944. As famílias que estavam em alojamentos e hospedarias recebiam alimentação e assistência médica, porém de repente essas famílias ficaram desassistidas.
Uma série de cartas escritas pelas mulheres que viviam nos alojamentos, e que serviram de fonte para a historiadora Verônica Secreto, comprovam que a vida no alojamento era difícil, pois as famílias estavam sujeitas a restrições, proibições e a trabalhos pesados.
Diante de tantas injustiças essas mulheres escreveram para reclamar, mas não aos seus maridos e sim ao próprio Presidente Getúlio Vargas. Apresentando-se como esposas, mães, irmãs e até noivas dos soldados da borracha elas reclamavam seus direitos e exigiam reparações.
Soldados da Borracha – História e Memória – Tempo presente.
A guerra chegou ao fim. Os soldados não voltaram para casa, muitos morreram na floresta vítimas de doenças, animais ferozes e fomes e trabalho demasiado pesado. Flagelados, migrantes, enganados e cativos, o exército da selva foi abandonado pelo governo.
A guerra travada pelos soldados não terminou, os sobreviventes relegados ao esquecimento por parte do governo e destituído de seus direitos têm lutado para serem reconhecidos pelo que realmente foram e se consideraram: soldados.
Esses homens que nem se quer foram reconhecidos como heróis nacionais tiveram, segundo Maria Silva, “seus corpos esquadrinhados e mutilados seus desejos”, serviram a pátria a favor dos Aliados e, no entanto, constituem uma legião de esquecidos, ficaram pois à margem da história.
Muito do que tem se escrito sobre esses homens, pretende rememorar seus feitos, sua bravura, suas lutas e as injustiças que sofreram e dar visibilidade a esses sujeitos anônimos para grande maioria de brasileiros.
Vale ressaltar que a constituição Federal de 1988 garantiu a aposentadoria de dois salários mínimos ao “soldado da borracha” como beneficio pelos trabalhos prestados à pátria. Nem todos usufruem desse benefício devido à dificuldade em provar que serviu como soldado na Amazônia. Muitos morreram sem que o benefício houvesse sido aprovado e poucos que ainda estão vivos ainda lutam para recebê-lo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
GOMES, Ângela de Castro "A construção do homem novo: o trabalhador brasileiro". In: Lúcia Lippi de Oliveira, Mônica Pimenta Velloso e Ângela de Castro Gomes. Estado Novo: Ideologia e poder. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. No tempo dos seringais: o cotidiano e a sociedade da borracha. São Paulo: Atual, 1997.
PRADO, Maria Lígia e CAPELATO, Maria Helena Rolim. “A borracha na economia brasileira da primeira república” In: Boris Fausto (Org.). História geral da civilização brasileira. São Paulo, 1977, Vol. VIII.
Fontes, Edilza. A Batalha da Borracha, a Imigração Nordestina e o Seringueiro: A relação história e natureza. In: NEVES, Fernando Arthur de Freitas e LIMA, Maria Roseane Pinto (Orgs.). Faces da História da Amazônia. Belém: Paka-Tatu, 2006.
SECRETO, Maria Verônica. Soldados da Borracha: Trabalhadores entre o sertão e a Amazônia no governo Vargas. Fundação Perseu Abramo, 2007.
Fontes, Edilza. A Batalha da Borracha. In: Contando a História do Pará, Volume II: Os conflitos e os grandes projetos na Amazônia contemporânea (Século XX), Belém – Organizadora Edilza Joana Oliveira Fontes. Belém: E.Motion, 2002. pp.47-69.
Secreto, Maria Verônica. Fúria epistolar: as cartas das mulheres dos soldados da borracha – uma interpretação sobre o significado da assistência às famílias. Revista Esboços. PPG História, UFSC, v.12, nº14, pp. 171-190.


[i] Secreto, Maria Verônica. Fúria epistolar: as cartas das mulheres dos soldados da borracha – uma interpretação sobre o significado da assistência às famílias. Revista Esboços. PPG História, UFSC, v.12, nº14, pp. 171-190.














[i] Garfield, Seth. A Amazônia no imaginário norte-americano em tempo de guerra. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.29, nº57, p.19-65, 2009.


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Linguagem Cinematográfica - Soldados da Borracha.

Argumento: Borracha para a Vitória é um documentário com 55 minutos de duração. O filme narra a saga dos Soldados da Borracha na Amazônia a partir da fala de alguns desses soldados. São depoimentos que ressaltam as experiências vivenciadas por estes sujeitos da história, memórias que foram guardadas por cada um desses seringueiros, histórias que são narradas como eles se recordam. Podemos dizer que se trata de uma parte da história brasileira sintetizada em uma narrativa.
Sequência: As sequencias do filme se dão a partir do testemunho oral dos seringueiros sendo visualizadas imagens de época, relatos de profissionais que pesquisam o assunto, testemunho de uma ex-funcionária do SEMTA e outras fontes arquivísticas e audiovisuais.

Personagens: São alguns dos poucos sobreviventes que foram recrutados para trabalhar nos seringais a fim de produzir borracha para os Aliados e que também fizeram parte do projeto de ocupação dos espaços vazios de Vargas. Outros personagens que compõem o filme estiveram envolvidos com o processo, ou estão por serem estudiosos do assunto. 
Foco Narrativo: O filme não possui um personagem narrativo, trata-se de relatos memoriais e centra-se na narrativa dos seringueiros sem que haja interrupções. As pausas são para apresentar imagens e áudios complementares e que tem por pretensão corroborar com o relato dos personagens.
Linguagens: O filme faz um diálogo com o passado que se explícita a partir das imagens e áudios que foram coletadas no Arquivo Nacional, na Cinemateca Brasileira, no Arcevo Regina Chabloz, no Arcevo Ana Maria Ribeiro, no Museu de Arte da UFC, no American National Archives e na Assessoria de Comunicação do Governo do Acre.

Contexto - Soldados da Borracha.

Em 1939, explode a Segunda Guerra Mundial dividindo as nações do mundo e dispondo-as em alianças militares opostas: de um lado os Aliados (União Soviética, Estados Unidos, França e outros), de outro lado o Eixo (Alemanha, Itália, Japão). No Brasil vivíamos o advento do Estado Novo sob o governo ditador de Getúlio Vargas que pretendia uma política de ocupação dos espaços vazios do território brasileiro, enquanto que os Estados Unidos tinha por objetivo integrar a América Latina e efetivar o pan-americanismo (visão americana de predomínio dos EUA sobre os demais territórios americanos). Foram as pretensões brasileiras e norte-americanas que favoreceram as negociações entre Vargas e Roosevelt que culminaram nos Acordos de Washington e na vinda de milhares de nordestinos para região Amazônica.

Ficha Técnica e Principais prêmios de Soldados da Borracha

Direção: Wolney Oliveira
Roteiro e Produção Executiva: Margarita Hernández
Direção de Fotografia: Antônio Luiz Mendes
Som Direto: Márcio Câmara
Montagem: Mair Tavares
Edição de som: Danilo Carvalho
Direção de Produção: Patrícia Baía
Assistência de Direção: Tessa Hernández
Duração: 55 minutos
Ano: 2004
País: Brasil
Gênero: Documentário


Prêmio.

·         1º DocTV-Brasil

Temas - Soldados da Borracha

Ciclo da Borracha –– 1º Boom da Borracha –– 1ª imigração Nordestina

COELHO, Geraldo Mártires. O brilho da Super Nova; A Morte Bela de Carlos Gomes. AGIR, UFPA, Belém, 1995.
SANTOS, Roberto. História Econômica da Amazônia (1800-1920). T. A. Queiroz. São Paulo, 1980.
SARGES, Maria de Nazaré. Riquezas Produzindo a Bélle Époque. Belém do Pará (1870-1910). Tese de Mestrado. Recife, 1990.  
LACERDA, Franciane Gama. Migrantes Cearenses no Pará (1889-1916). Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2006.

Segunda Guerra Mundial –– Governo Vargas –– Pan-americanismo. 
HOBSBWN, Eric. “A Era da Guerra Total”. In: Era dos Extremos. O Breve Século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
GOMES, Ângela de Castro "A construção do homem novo: o trabalhador brasileiro". In: Lúcia Lippi de Oliveira, Mônica Pimenta Velloso e Ângela de Castro Gomes. Estado Novo: Ideologia e poder. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.
TOTA, Antonio Pedro, O imperialismo sedutor:  A americanização do Brasil na época da Segunda Guerra. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
BERABA, Ana Luiza.  América Aracnídea: Teias Culturais Interamericanas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

2º Boom da Borracha –– 2ª Migração Nordestina –– Soldados da Borracha.
FIGUEIREDO, Aldrin Moura de. No tempo dos seringais: o cotidiano e a sociedade da borracha. São Paulo: Atual, 1997.
PRADO, Maria Lígia e CAPELATO, Maria Helena Rolim. “A borracha na economia brasileira da primeira república” In: Boris Fausto (Org.). História geral da civilização brasileira. São Paulo, 1977, Vol. VIII.
VERÍSSIMO, José. Estudos “A Amazônia (Aspectos econômicos)” [1892]. In: Estudos Amazônicos. Belém: Universidade Federal do Pará, 1970.
WOLFF, Cristina Scheibe. Mulheres da floresta: Uma História: Alto Juruá, Acre (1890-1945). São Paulo: Hucitec, 1999.

Fontes, Edilza. A Batalha da Borracha, a Imigração Nordestina e o Seringueiro: A relação história e natureza. In: NEVES, Fernando Arthur de Freitas e LIMA, Maria Roseane Pinto (Orgs.). Faces da História da Amazônia. Belém: Paka-Tatu, 2006.
SECRETO, Maria Verônica. Soldados da Borracha: Trabalhadores entre o sertão e a Amazônia no governo Vargas. Fundação Perseu Abramo, 2007.
Fontes, Edilza. A Batalha da Borracha. In: Contando a História do Pará, Volume II: Os conflitos e os grandes projetos na Amazônia contemporânea (Século XX), Belém – Organizadora Edilza Joana Oliveira Fontes. Belém: E.Motion, 2002. pp.47-69

Soldados da Borracha – História e Memória – Tempo presente.       
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS.  Indivíduo, biografia, história. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1997.
FERREIRA, Marieta de Moraes e AMADO, Janaína. Usos e Abusos da História Oral. Rio
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,1996.
BRAGA, Elizabeth dos Santos.  A construção social da memória: uma perspectiva
Histórico-cultural. Ijuí – RS: Unijuí, 2000.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas – SP: Unicamp, 1996.
UFRGS. Cinema e Pesquisa: História e Memória. Porto Alegre – RS: UFRGS, 1999.
ZAMBIASI, José Luiz. Lembranças de Velhos. Chapecó - SC: Universitária Grifos, 2000.

Seleção - Soldados da Borracha

O filme “Borracha para a vitória” é um documentário sob direção de Wolney Oliveira, que relata a saga dos Soldados da Borracha, cerca de 60.0000 homens que foram enviados à Amazônia para extrair látex durante a Segunda Guerra Mundial auxiliando assim os Aliados no esforço da Guerra. O filme é uma obra memorialística, pois dá visibilidade à trajetória desses homens que narram essa experiência relembrando as promessas do governo Vargas: aposentadoria na patente militar e condecorações. O recorte é a conjuntura da Segunda Guerra Mundial e o advento do Estado Novo. 

domingo, 6 de maio de 2012

TRABALHO - SOLDADOS DA BORRACHA.

TRABALHO: Soldados da Borracha, PARA OS ALUNOS  DE AMAZÔNIA III.

Data de entrega: 20/06/2012.

·         O artigo de no mínimo 10 laudas: espaçamento 1,5 / Letra 12/ margem – 3,0 / 2,5. Notas / Referências.

Roteiro do Artigo.
1.      O que foi a batalha dos Soldados da Borracha?
2.      Qual a visão dos Estados Unidos sobre a Amazônia?
3.      A 2ª Interventoria de Barata.
4.      O recrutamento
5.      A vinda do Ceará
6.      A imagem da Amazônia na virada.
7.      Memórias do Soldado da Borracha
8.      A mágoa do governo pelo abandono
9.      O filme e a História do Tempo Presente: os usos do passado.

TRABALHO SOBRE MEMÓRIAS DO CÁRCERE.

TRABALHO: memórias do cárcere, PARA OS ALUNO DE AMAZÔNIA III (NOITE).

data de entrega: 24/05/2012. (na sala de aula, noite).

PLANO DE AULA

1) IDENTIFICAÇÃO.
Disciplina: História.
            Assunto:
            Série: (VOCÊ DEVE DEFINIR A SÉRIE QUE DESTINA O PLANO DE AULA, DE ACORDO COM OS PROGRAMAS DA REDE DE ENSINO ESTADUAL.)

            Carga Horária semanal: O PLANO DE AULA DEVE SER PENSADO PARA 90 MIN / 2 AULAS SEMANAIS.

2) JUSTIFICATIVA.
          
            O TEMA DA AULA É O GOLPE DE 35 E A REPRESSÃO DO ESTADO NOVO. VOCÊ DEVE JUSTIFICAR O TEMA E O USO DO FILME PARA ABORDAR ESTE TEMA EM SALA DE AULA.

3) OBJETIVO GERAL.

VOCÊ DEVE PROPOR SEIS OBJETIVOS GERAIS A PARTIR DOS VERBOS INDICADOS, PARA CADA UM DELES NA RELAÇÃO ABAIXO:

1. Inserir .....
2. Destacar as principais mudanças ...
3. ANALISAR ....
4. Trabalhar  ....
5. Apontar  ....
6. Refletir  .....

4) CONTEÚDO PROGRAMÁTICO / CONCEITOS E FONTES.

            VOCÊ DEVE INIDICAR COMO PRETENDE DIVIDIR O CONTEÚDO NAS DUAS AULAS, E QUAIS OS CONTEÚDOS QUE VOCÊ PRETENDE ABORDAR DENTRO DO TEMA.
            NESTA PARTE DO PLANO DE AULA, ALÉM DO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO, VOCÊ DEVE EXPLICITAR OS CONCEITOS TEÓRICOS QUE VOCÊ VAI DEBATER A PARTIR DO FILME E OS DOCUMENTOS HISTÓRICOS QUE O FILME APRESENTA E OS QUE VOCÊ VAI CITAR E ACRESCENTAR EM SALA DE AULA.




5) METODOLOGIA DE ENSINO.

            NÃO ESQUEÇA A SUA METODOLOGIA DEVE ESTAR PAUTADA OFILME MEMÓRIAS DO CÁRCERE.

6) RECURSOS DIDÁTICOS.
            QUAIS OS RECURSOS DIDÁTICOS QUE IRÁ UTILIZAR EM SALA DEAULA, JUSTIFIQUE CADA UM DELES.



7) AVALIAÇÃO.

            NÃO SE ESQUEÇA A AVALIAÇÃO TEM QUE ENVOLVER O FILME MEMÓRIAS DO CÁRCERE.


8) REFERNCIAL TEÓRICO.
            COMENTE PELO MENOS CINCO REFERENCIAIS TEÓRICOS QUE IRÁ PROPOR EM SEU PLANO DE AULA.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O caso brasileiro: Soldados da Borracha

‘Soldados da borracha’ ainda lutam por compensação na Amazônia brasileira.

Milhares de pessoas foram levadas para trabalhar nos seringais da Amazônia

Na Amazônia brasileira, um grupo esquecido de trabalhadores que se alistou para ajudar os aliados na Segunda Guerra Mundial ainda sonha em voltar para as casas que deixaram ainda na adolescência.

São os chamados “soldados da borracha”, enviados para trabalhar como seringueiros na floresta e ajudar na produção da borracha necessária no esforço de guerra.

Hoje octogenários, eles ainda esperam o desfecho de uma batalha legal que pode finalmente trazer a eles o reconhecimento e a recompensa financeira que tinham sido prometidos há 67 anos.

Em 1943, enquanto os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e seus aliados estavam lutando nos campos de batalha na Europa, no Norte da África e no Oriente, milhares de brasileiros empobrecidos eram convocados para cumprir com seu dever patriótico.

'Heróis'

Manuel Pereira de Araújo lembra o dia que mudaria sua vida para sempre ao se juntar aos “soldados da borracha”.

“Um oficial do Exército chegou à minha cidade e nos disse que podíamos nos juntar à luta na frente de batalha na Itália ou ir para a Amazônia. Ele disse que nos tornaríamos heróis na batalha da borracha e ficaríamos ricos extraindo látex”, disse.

O esforço de recrutamento era parte de um acordo firmado entre o Brasil e os Estados Unidos.

Com o principal produtor mundial de borracha da época, a Malásia, sob ocupação japonesa, e a borracha sintética não disponível na escala necessária para suprir os esforços de guerra, os Estados Unidos precisavam de uma fonte confiável de borracha.

Os Acordos de Washington previam que o Brasil supriria todo o látex que pudesse produzir em troca de US$ 2 milhões (cerca de US$ 25 milhões, ou R$ 44 milhões, a preços de hoje) dos Estados Unidos.

Nordeste

Condições de vida dos soldados da
 borracha eram precárias
 

O governo brasileiro centrou sua campanha de recrutamento no nordeste, entre a população pobre que sobrevivia com produção agrícola de subsistência em terras áridas.

“Era uma vida de pobreza. Não havia dinheiro ou trabalho para nós lá. Nós comíamos somente feijão e mandioca, e as colheitas eram tão pobres que muitas vezes passávamos fome”, conta Claudionor Ferreira Lima, presidente do Sindicato dos Soldados da Borracha de Porto Velho.

“Eu deixei minha noiva para trás, achando que ficaria rico e voltaria em dois anos para começar uma família. Até onde eu sei, ela ainda está esperando”, diz.
 Cerca de 55 mil pessoas, em sua maioria homens jovens, se alistaram, mas muitos deles nunca mais viram suas famílias ou suas casas.

Inferno

Ferreira Lima lembra o momento em que desembarcou na verde e exuberante floresta amazônica, após uma viagem de vários meses por caminhão e barco.

“Pensávamos que tínhamos chegado ao paraíso, mas em vez da glória encontramos o inferno”, diz.

“Era escravidão”, afirma Antonio Barbosa da Silva, outro soldado da borracha. “Não havia salário, e se você não produzisse não comia”, diz.

“Tirávamos a borracha e trocávamos por comida e por outros bens na loja do seringal”, relata.

Cabanas

As promessas do governo de assistência médica, acomodação e alimentação não se cumpriram.

“Eles nos deram somente dois pares de calças, então quando uma estava suja eu usava a outra. Não havia onde dormir, então tínhamos que construir uma cabana com madeira e folhas de palmeira”, conta Manuel Pereira de Araújo.

Sem médicos nem hospitais, milhares de soldados da borracha morreram de malária, hepatite ou febre amarela.

Outros foram atacados por onças e jacarés ou sucumbiram a picadas de cobra.

“Aqueles que tentavam sair recebiam seu pagamento e ouviam que estavam livres para ir. Mas perto dali havia pistoleiros contratados para atirar neles, tomar seu dinheiro e trazer de volta para o patrão”, lembra Araújo.

Famílias
Muitas famílias acompanharam os
soldados da borracha à floresta
 

Em busca de uma vida melhor, muitas famílias dos soldados da borracha também decidiram embarcar nos navios do governo em direção à Amazônia.

Vincenza da Costa tinha só 14 anos quando seu pai decidiu que a família deixaria para trás a seca do Ceará.

“Ele disse para a minha mãe: ‘Vamos, Cândida. Plantei minha última semente, e sem chuva há oito dias, ela já morreu’. Mas era minha casa e eu queria ficar. Chorava todo dia”, ela conta.

“Nós estávamos com muitas saudades de casa, mas nossa mãe disse: ‘Por que vocês estão tão tristes? Pelo menos aqui podemos comer’. Então tentávamos levantar nossos espíritos fazendo músicas”, relata.



Rádio

José Duarte de Siqueira era apenas um menino quando os soldados da borracha chegaram à sua cidade-natal, no Estado do Acre.

“Havia apenas um bar com um rádio. Escutávamos as transmissões em português da BBC de Londres e passávamos as notícias sobre a guerra para os que viviam nos seringais”, conta.

Foi pelo rádio que Araújo descobriu que a guerra havia terminado.

“Foi em 8 de maio de 1945 que eu ouvi as notícias, e estávamos muito felizes porque pensamos que receberíamos nossos pagamentos e poderíamos voltar para casa”, diz.

Pensão
Campanha de alistamento prometia
dinheiro e reconhecimento
 
Mas a prometida remuneração nunca chegou e, sem dinheiro para voltar, a maioria dos homens permaneceu nos seringais.

Após alguns anos, o governo começou a pagar a eles uma pequena pensão.

Hoje cerca de 8.300 soldados da borracha sobreviventes e 6.500 viúvas recebem R$ 1.020 por mês, mas é muito menos do que eles foram levados a acreditar que ganhariam.

Nos escritórios dilapidados do Sindicato dos Soldados da Borracha, Lima está otimista com a possibilidade de um aumento da pensão.

“Eu me tornei presidente do sindicato para lutar por justiça, porque os soldados da borracha merecem coisa melhor”, diz.

Políticos simpatizantes da causa nos Estados do Acre, de Rondônia e do Amazonas estão pressionando para que o aumento da pensão ocorra logo.

Em maio deste ano, foi feito um novo pedido de urgência para a aprovação do aumento.

Advogados

Uma equipe de advogados também tenta garantir indenizações.

“Meu avô foi um soldado da borracha, e eu cresci ouvindo suas histórias. A contribuição que eles deram e a injustiça contra eles são parte da memória do povo da região amazônica”, afirma o advogado Irlan Rogério Erasmo da Silva.

“Estamos pedindo R$ 764 mil para cada soldado da borracha. Não é só sobre o dinheiro que foi mandado pelos Estados Unidos. Estamos também pedindo indenizações pelas violações aos direitos humanos sofridas por eles”, diz.

Com a batalha legal em andamento, muitos dos soldados da borracha ainda sonham com a “volta para casa”.

“Fiquei esperando todos esses anos para receber meu dinheiro”, diz Araújo.

“Quando ele chegar, vou voltar para o nordeste. Meus pais já morreram, mas vou ficar com meus irmãos e minhas irmãs”, afirma.

Mas o tempo está se esgotando, e para muitos dos soldados da borracha, já é tarde demais.

Referência Bibliografia