terça-feira, 18 de dezembro de 2012


Adeus, Lênin - resenha





Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner (Katrin Sass) passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl), temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.
Adeus, Lênin! marca o ressurgimento do cinema comercial alemão após anos de um período glacial de pouco público e recepção fria dos críticos. O filme de Wolfgang Becker alcançou a impressionante marca de 6 milhões de espectadores e amealhou boas críticas de jornalistas, especializados ou não, e de setores da esquerda ou da direita. No Brasil, por exemplo, sites como do PSTU (parte cultural) e da Revista Veja fazem rasgados elogios ao filme, cada qual com seus motivos. O problema de Adeus, Lênin talvez resida neste consenso. Um filme político (com boas intenções?) que recebe boas críticas de setores tão distintos é motivo de preocupação com o discurso que adota ou com a inocência de quem o recebeu.
A fábula ostálgica [leste+nostalgia] agridoce encantou a Alemanha e mundo. Apesar do “grande” tema histórico que suscita (a Reunificação!) e das láureas que recebeu, o filme adota estratégias narrativas e estéticas convencionais. Logo após a reunificação, a ostálgia ajudou a colocar na tela uma espécie socialismo lúdico que existiria na Alemanha Oriental (Go, Trabi, Go! (1992) é um exemplo)
Em oposição a esse socialismo apareceu em 2006 A Vida dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck, que aponta para um socialismo bem real e outro grande tema histórico (a Stasi). O cineasta alemão Wim Wenders escreveu em 1992, no Le Monde, que a considera a reunificação como “erro de montagem” e “que não teria sido feita pelo autor, mas pelo estúdio – todo o material bom teria sido abandonado no chão da sala de montagem”. A reunificação “não foi feita com material humano, a história e a linguagem das pessoas que haviam brigado tanto por isso, mas de acordo com uma outra lógica, a dos políticos da Alemanha Ocidental, que precisavam colocar a reunificação na tela muito rápido”. Wim Wenders chegou a um ponto que ajuda na análise de Adeus, Lênin! : a película não tem como objetivo principal fazer críticas à esquerda ou à direita, apesar de fazê-las, mas sim participar de um projeto de normalização das relações leste-oeste na Alemanha reunificada e de uma recepção sem tantos preconceitos da germaneidade (vide que o slogan da Copa de 2006 era “Time to make friends”). Isso por si só explica a grande aceitação do filme em diversos meios e o sucesso alcançado desde o lançamento.

Apesar desse adendo Adeus, Lênin! tem sua importância e seus méritos: consegue mostrar com excelência a marcha de um Estado sobre outro e como a Alemanha Oriental virou rapidamente peça de museu com todos os seus pontos diversos, transformando a RDA em uma espécie de zoológico ideológico. A cena que Lênin passa de helicóptero, dando o seu adeus, é interessante: nessa cena nos podemos tirar conclusões da rápida mudança da antiga pátria socialista ou como (dependendo da visão da pessoa) os comunistas eram iconófilos em relação aos seus líderes intelectuais. Adeus, Lênin! mostra que após a euforia da reunificação a Alemanha encontrou problemas para se acomodar a nova realidade. O filme ressalta valores familiares e a relação de proximidade entre as pessoas, que como já foi dito está em um contexto de melhor recepção do ser alemão no mundo. O filme é, sobretudo, bem filmado, realizado e atuado, o que muito contribuiu para o sucesso da película.

Ficha Técnica

Título Original: Good Bye, Lenin! (Alemanha, 2003)
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 118 minutos
Distribuição: Sony Pictures Classics
Direção: Wolfgang Becker
Roteiro: Wolfgang Becker e Bernd Lichtenberg.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Batalha de Argel (Ficha Técnica)


Sobre o diretor: Gillo Pontecorvo era um jovem tenista playboy que viajava a Europa disputando torneios internacionais. Foi depois de um desses, em Paris, que conheceu e se aproximou de gente como Picasso, Stravinsky e Sartre. Pouco tempo depois, se tornaria um dos maiores diretores do cinema político da nossa história. Graças à sua noção de movimentação adquirida no tênis de competição ele conseguiu dar velocidade às cenas e criou uma obra de referência para o cinema.

A Batalha de Argel, O filme ficou proibido na França até 1971 e no Brasil durante a Ditadura Militar. Recebeu 3 indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original. Ganhou o Leão de Ouro e o prêmio Fipresci no Festival de Veneza de 1966.

Título: A Batalha de Argel (La Bataille d'Alger).
Ano: 1966.
Diretor: Gillo Pontecorvo.
Produção: Itália, Argélia.
Tema: Independência argelina.


A Batalha de Argel (Trailer)

                         Fonte: Submarino.
A Batalha de Argel (1966) - Resenha




Direção de Gillo Pontecorvo. Produção: Casbah Films,Argel. Roteiro: Franco Solinas. 
Intérpretes: Brahim Haggiag, Jean Martin, Saadi Tafet e outros. Estúdios Lumiére. 1965. 
Duração: 121 min. 
por  Adson Rodrigo Silva 

Obra-prima do cinema politizado dos anos 1960, sem exageros didáticos ou visões  superficiais do processo histórico, o diretor italiano Gillo Potecorvo conseguiu fazer um filme  ultra-realista sem abrir mão da emoção e da aventura. Diretor de  Queimada e também  Firenze II, no filme “A batalha de Argel” trabalha algo que vem  desenvolvendo desde suas  primeiras obras, que é a denúncia do colonialismo por países europeus. Pontecorvo, nascido  em Pisa (norte da Itália) em 1919, emigrou para Paris no período da ditadura de Mussolini. 
Nessa cidade atuou contrariamente ao poder, o que culminando com seu exílio.  O exílio, ao  invés de afastá-lo dos pensamentos críticos da ditadura, o aproximou ainda mais da resistência italiana, como podemos perceber através da sua filiação com o Partido Comunista  em 1941, nele militando por muitos anos.  Pontecorvo é um homem bastante envolvido com a política, conforme apresentado  no CD 2 da coletânea, e suas obras recebem influencias de importantes momentos vividos  pelo diretor nos comícios que realizou contra os fascistas e os alemães, chamando a  população para a insurreição. Esse período de militância vivenciado por Pontecorvo,  momento em que ele liderava a oposição ao fascismo em Milão, à frente da Juventude  Comunista, lutando durante a II Guerra Mundial, marca a obra aqui retratada,  principalmente quando vemos que essas lutas eram feitas na clandestinidade. Para o autor, a  organização secreta permitia a sobrevivência ao poderio superior do adversário e da polícia.  Naturalmente, o que aprendeu em Milão, Genova ou nas montanhas preencheu o roteiro de  “A batalha de Argel”. 
O filme de Gillo Pontecorvo se passa em  Argel, capital da Argélia, então colônia  francesa, durante o processo de revolta contra a dominação europeia no final dos anos 1950.  A ação se transpõe entre 1954 a 1957 e o diretor, que com maestria mistura ficção e fatos  reais, procura tratar com veracidade a resistência argeliana (mediada pela personagem Ali  La Pointe) e a violência do exército francês (Tratada na personagem Coronel Mathieu),  obtendo, como resultado, um “quase” documentário, intenso, emocionante, que mantém o  espectador em suspense do início ao final do filme.  
O enredo está inserido no contexto das lutas de independência no período da  descolonização da África e da Ásia, que se desenvolveram no período do pós-guerra. O ano é  1957, temos inicialmente o que parece ser um prisioneiro que acaba de ser “interrogado”, recebendo ordens de membros do exército e confirmando um endereço. Em seguida temos a  invasão desses militares a uma residência e o cerco a um guerrilheiro específico: Ali La Pointe. Ele é convidado a se render, já que todos seus companheiros  foram presos ou  mortos. Assim, percebemos que o filme começa no fim do enredo. 
O filme se desenvolve então em um grande flashback, voltamos para o ano de 1954,  e Argel é mostrada a partir dos seus contrastes de colônia: de um lado o bairro europeu, do  outro o bairro muçulmano, a Casbah. Ao mesmo tempo em que temos em OFF os termos da  FLN – Frente de Libertação Nacional –, comunicando a “luta dirigida contra o colonialismo”,  de acordo com o islã e o respeito às diferenças étnicas e religiosas, temos a captura de Ali La Pointe, não ainda como criminoso político, mas como charlatão, golpista e delinquente  juvenil. 
Na cadeia ocorre o contato de Ali com criminosos políticos, e o diretor revela sua  genialidade na bela tomada da execução na guilhotina de um desses presos por motivos  políticos, gritando a grandeza de Alá e que a Argélia vive! Liberto, o protagonista entra para  os quadros da FNL, passando antes por um perigoso e frustrante teste para comprovar sua  fidelidade à causa. 
Temos em seguida um novo corte temporal, agora o ano é 1956. Novamente temos  o recurso do  OFF ressaltando a propaganda contra a dominação, responsabilizando os  franceses não só por essa dominação e opressão mas também pelo flagelo evícios (como o  alcoolismo e prostituição dos argelianos). Seguindo as ordens muçulmanas, a FLN passa a  proibir o uso do álcool e de drogas, a participação em jogos e a prostituição. Já que é  necessário “limpar” Casbah, seu principal agente se torna Ali La Pointe. Essa passagem  elucida que além da questão política, decorrente da colonização, temos uma questão  religiosa e mesmo sociológica, onde a colonização  reforça as divergências culturais entre os  dominantes e os dominados. Percebemos também o caráter que a religião  assume como  forma de resistência e de luta. Tema  atual, pois nos remete para a recente guerra infligida contra o terror pelo governo estadunidense nesses últimos anos, revelando o conflito entre  as culturas e ocidentais e islâmica. 
Vemos que o caráter da resistência e da luta contra a dominação francesa se dá em  amplos aspectos do cotidiano desses argelinos. Temos o casamento entre dois jovens muçulmanos realizado às escondidas e por membros da FLN, mostrando que além da luta armada há uma forte questão civil, que de certa maneira já está presente no combate ao consumo das drogas e do álcool. 
Temos também o aumento da violência pela FLN, atentados contra policiais e delegacias servem para mostrar a força e a organização do movimento urbano, pois muitos ataques ocorrem de forma ordenada em pontos espalhados da cidade. O aumento dos ataques contra as autoridades as levam  a reagir com mais policiamento, fechamento de ruas, isolamento dos bairros árabes, controlando entrada e saída de seus habitantes, toques de recolher e, inclusive, controle de remédios e do atendimento em hospitais e ambulatórios de ferimentos à bala. 
A violência direta não vai partir apenas de um dos lados, membros da polícia vão promover um ataque à bomba em uma viela do bairro árabe, Casbah, o que provoca uma revolta por parte dos moradores que saem imediatamente às ruas, mas a FLN intervém e se compromete em vingar o ataque. Temos a partir de então, uma nova onda de atentados, agora contra locais públicos nos bairros europeus, inclusive com a utilização de mulheres como guerrilheiras. É inquietante a seqüência que envolve os três ataques, onde o diretor optou por mostrar todos os aspectos desde a preparação das mulheres, passando pelas instruções e preparação das bombas, até o desfecho final de explosão. 
Passando para o ano seguinte, 1957, temos uma maior repressão ao movimento armado. O governo convoca os pára-quedistas franceses para reprimir os insurgentes. Liderados pelo ex-membro da resistência francesa durante a segunda guerra, o coronel Mathieu. Esses militares irão se utilizar de inteligência investigativa, do “interrogatório”, com direito a sessões de tortura, e vão ocupar Casbah, considerando que estão assim em guerra contra os separatistas. O auge dos conflitos se dará durante a convocação por parte da FLN de uma greve geral de 6 dias, aproveitando o momento em que a ONU discutirá a questão  argeliana. As forças integracionistas vão obrigar que estes grevistas saiam para as ruas,  aprisionando alguns habitantes e utilizando dos seus métodos para descobrir os lideres  da FLN. Durante esse período temos um interessante uso da imprensa como forma de  legitimar a repressão e criminalizar o movimento de independência, com o papel que  tem nas críticas aos separatistas. 
Com a tortura e prisões de alguns membros da FLN, ela  vai sendo desmantelada, a ONU opta por não intervir diretamente, e a greve não obtém o resultado almejado devido às fortes repressões que os integracionistas fazem na ocupação de Casbah.  A própria FLN diverge quanto a tática a ser adotada, mas optam por promover mais atentados para mostrar que estão ainda na ativa. Mesmo com a morte de civis e inocentes de ambos os lados, os conflitos continuam, muitas vezes envolvidos não só pelas questões políticas, mas também por questões étnicas e religiosas. Pontecorvo capta bem  essa questão, pois, em 
diversas passagens do filme, como no espaçamento de um garoto árabe vendedor de doces e na delação da população de um bairro europeu à um mendigo, vemos que há mais envolvido do que meramente os aspectos políticos do conflito. 
Com a prisão de lideres do movimento os colonizadores tem aquilo que queriam, a esperança de que a segurança será restabelecida, mais uma vez temos o uso da imprensa como arma, ao se espetacularizar a prisão do líder intelectual do movimento Lurbi Ben M’Hioli. Temos ainda mais seqüências de ação pelas vielas de Casbah, em emocionantes perseguições dos militares aos insurgentes e lideres que vêem seus disfarces e esconderijos fracassarem, capitulando um a um, até chegarmos no fim de todo o flashback, retornando ao inicio da película e ao fim da história: temos Ali La Pointe, escondido junto a uma criança, uma mulher e um homem em um fundo falso na parede, cercados pelas tropas de Mathieu. 
A obra é bastante elucidativa e envolve um tema polêmico, já que mostra a forma da luta e as táticas de resistência pela independência Argelina, tanto no lado dos dominados como no dos dominadores. Pontecorvo foi brilhante ao destruir o maniqueísmo e pieguice que geralmente envolve os romances  sobre esses temas. Esse aspecto torna-se evidente no belo diálogo entre o Coronel Mathieu e um dos líderes da FLN. Claro que temos o uso de um fundo triste e de seqüências com um tempo mais lento quanto exibe-se as cenas de tortura, de espancamento e da explosão das bombas nos atentados, mas isso é necessário para que percebamos a dramaticidade das cenas.                                           
Por fim, temos novos recortes temporais, cenas com os grandes distúrbios e tensões entre as autoridades e a população de Argel no ano de 1960, que uníssonas, mesmo sob ataque de cassetetes e até mesmo armas de fogo, lutam e exigem a independência nas ruas e avenidas de Argel, conquistada em julho de 1962. Acreditamos que o objetivo de Potencorvo em sua narrativa tenha sido  mostrar como se constrói um processo de luta. Ele narra à formação da FLN, o seu auge e o seu final, mas deixa bem claro que quem tem o poder de concretizar as profundas transformações, no caso a Independência da Argélia, é a população, unida e mobilizada. A Batalha de Argel ganhou o Leão de Ouro e o prêmio Fipresci (da Federação Internacional dos Críticos) no festival de Veneza em 1966. O filme foi banido na França até 1971 e o primeiro cinema que o exibiu sofreu atentado, também foi proibido no Brasil durante o período da Ditadura Militar. Afinal, Potencorvo fez desse filme uma cartilha sobre a ação política em forma de guerrilha. 
Em suma, podemos, a partir do filme, refletir e entender essa Argélia que ainda hoje é um país cheio de conflitos, e que sua guerra interna é antiga, mais do que as confusões que teve com o país colonizador, a França. A batalha de Argel, documentada em uma película de Gillo Pontecorvo, é uma maravilhosa representação da batalha entre colonizador e colonizadoe dos conflitos deste povo, que até o presente vive uma guerra civil que marca o país

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Sessão Cinema: Bye Bye Brasil





Sessão Especial "Ditadura Militar" do projeto A História vai ao Cinema.

Horário

Quarta (21-10): História 2009 Manhã.

Quinta (22-10): História 2009 Noite.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012


TRABALHO FINAL – AMAZÔNIA III (MANHÃ)
   
Analise o livro de Edna Castro “Cidades na Floresta” que contém os seguintes textos e faça um artigo comparando as cidades:


MARTINS, José de Souza. A vida privada nas áreas de expansão da sociedade brasileira. IN: História da Vida Privada no Brasil: Constastes da Intimidade Contemporânea/  Coordenador-geral: Fernando A. Novaes; Organizadora do volume: Lilia Moritz Schwaecz – São Paulo: Companhias das Letras, 1998.
CASTRO, Edna. Urbanização, pluralidade e singularidade fazem cidades amazônicas. IN: Em Cidades da Floresta/ Edna Castro, organizadora. São Paulo: Anablume/2009.
NUNES, Brasilmar Ferreira. A interface entre o urbano e o rural na Amazônia. IN: Em Cidades da Floresta/ Edna Castro, organizadora. São Paulo: Anablume/2009.
BOLLE, Willi. Belém, porta de entrada da Amazônia. IN: Em Cidades da Floresta/ Edna Castro, organizadora. São Paulo: Anablume/2009.
ROCHA, Gilberto. Vilas e cidades e a hidrelétrica de Tucuruí. IN: Em Cidades da Floresta/ Edna Castro, organizadora. São Paulo: Anablume/2009.
PEREIRA, José Carlos. O papel de Santarém como cidade média na Amazônia Oriental. . IN: Em Cidades da Floresta/ Edna Castro, organizadora. São Paulo: Anablume/2009.

Conteúdos que devem ser abordados no artigo:
1 – As singularidades das cidades amazônicas.
2 – As cidades amazônicas e a interface com o rural.
3 – Belém / Santarém e Tucuruí: cidades do Pará e histórias diversas.
4 – Os grandes projetos e as cidades no Pará.
5 – As cidades nas áreas de fronteira.]

O artigo terá no máximo 10 páginas, digitadas em fonte Times New Roman 12, com espaço 1,5. As citações de mais de três linhas deverão ser feitas em destaque, com fonte 11, em espaço simples. Margens: superior e inferior: 2.0 cm; esquerda e direita: 3.0 cm. Os artigos serão acompanhados do título em inglês, resumo e abstract de no máximo 10 linhas (português e inglês), 3 palavras-chave e de 3 keywords.

Prazo: 14/11/2012.

Reposição de Aula: Diálogos com os autores.
Dia 08/10
Pere Petit. Chão de Promessas: elites políticas e transformações econômicas no estado do Pará pós-1964. Belém – Paka-Tatu /2003
Dia 10/10
Edilza Fontes. UFPA 50 anos – Histórias e memórias / UFPA. Belém, 2007.
Dia 16/10
Toni Leão. O Carimbo e a música popular paraense. Música do Norte: intelectuais, artistas populares, tradição e modernidade na formação da “MPB” no Pará (anos 1960-1970). 
Dia 17/10
Elias Sacramento. As almas da terra: a violência no campo paraense.
Dia 24/10
Edivania Alves. Marchas e contramarchas na luta pela moradia na Terra Firme (1979- 1994).
Dia 31/10
Antônio Mauricio Dias. Festa na Cidade: o circuito bregeiro de Belém do Pará.
Dia 07/11
Luzia Canuto. Terra e Natureza: Assentamentos Rurais de Rio Maria (1974-2004).
Dia 14/11
Edilson Mateus da Silva. Ruy, Paulo e Fafá: a identidade amazônica na canção paraense (1976 – 1980). 

TRABALHO FINAL – AMAZÔNIA III (NOITE)
Elabore um artigo com o tema Soldados da Borracha a partir da análise dos documentários apresentados na sala de aula e da bibliografia específica do tema.

Guillen, Isabel. "Cidadania e exclusão social: a história dos soldados da borracha em questão", Trajetos, n. 2, 2002, pp. 69-82.
Secreto, Maria Verônica. Soldados da Borracha: trabalhadores entre o sertão e a Amazônia e o governo Vargas. Editora Fundação Perseu Abramo. 1ª edição. 2007.

Roteiro do Artigo.
1.      O que foi a batalha dos Soldados da Borracha?
2.      Qual a visão dos Estados Unidos sobre a Amazônia?
3.      A 2ª Interventoria de Barata.
4.      O recrutamento
5.      A vinda do Ceará
6.      A imagem da Amazônia na virada.
7.      Memórias do Soldado da Borracha
8.      A mágoa do governo pelo abandono
9.      O filme e a História do Tempo Presente: os usos do passado.

O artigo terá no máximo 10 páginas, digitadas em fonte Times New Roman 12, com espaço 1,5. As citações de mais de três linhas deverão ser feitas em destaque, com fonte 11, em espaço simples. Margens: superior e inferior: 2.0 cm; esquerda e direita: 3.0 cm. Os artigos serão acompanhados do título em inglês, resumo e abstract de no máximo 10 linhas (português e inglês), 3 palavras-chave e de 3 keywords.

Prazo de Entrega: 14/ 11/ 2012.

Reposição de Aula: Diálogos com os autores.
Dia 08/10
Pere Petit. Chão de Promessas: elites políticas e transformações econômicas no Estado do Pará pós-1964. Belém – Paka-Tatu /2003
Dia 11/10
Edilza Fontes. UFPA 50 anos – Histórias e memórias / UFPA. Belém, 2007.
Dia 15/10
Toni Leão da Costa. O Carimbo e a música popular paraense. Música do Norte: intelectuais, artistas populares, tradição e modernidade na formação da “MPB” no Pará (anos 1960-1970). 
Dia 18/10
Elias Sacramento. As almas da terra: a violência no campo paraense.
Dia 25/10
Edivania Alves. Marchas e contramarchas na luta pela moradia na Terra Firme (1979- 1994).
Dia 01/11
Antônio Mauricio Dias. Festa na Cidade: o circuito bregeiro de Belém do Pará.
Dia 08/11
Luzia Canuto. Terra e Natureza: Assentamentos Rurais de Rio Maria (1974-2004).
Dia 14/11
Edilson Mateus da Silva. Ruy, Paulo e Fafá: a identidade amazônica na canção paraense (1976 – 1980). 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Cine História: Guerra sem cortes.


O ponto alto da película é um impressionante plano-sequência de cerca de quatro minutos, que mostra o protagonista, Robbie, e dois companheiros de armas na praia francesa de Dunquerque, em 1940, durante a retirada das tropas inglesas que foram para o continente lutar contra o avanço nazista sobre Paris, no começo da Segunda Guerra Mundial. A sequência se refere a um momento daquela que foi chamada de Operação Dínamo, e que consistiu na evacuação do porto de Dunquerque, e das praias ao redor da cidade, de milhares de soldados da Força Expedicionária britânica e de países aliados (entre final de maio e início de junho, sob intenso bombardeio inimigo, foram evacuados mais de 300 mil homens). A ofensiva alemã não dava mais chances de luta às tropas aliadas, que, encurraladas em poucos quilômetros de litoral, só podiam ser resgatadas pelo mar.

A obra de arte tem muitas vezes a capacidade de transportar as pessoas numa autêntica viagem que parece suspender o tempo e cancelar o espaço ao seu redor. Se isto é verdade para a leitura de uma obra literária ou a audição de um concerto de música, confirma-se com mais vigor ainda quando assistimos a um filme. A câmera substitui o nosso olhar e nos faz encontrar pessoas, percorrer lugares, viver situações. Nós vemos e vivemos o que a câmera vê e filma. A edição recorta e cola sequências, produzindo o efeito final da sucessão das cenas. O espectador parece viver dentro da tela.
O efeito, contudo, é impressionante quando o cinema se serve de uma técnica que assemelha ainda mais a arte à vida: o plano-sequência, isto é, a filmagem direta e sem cortes de uma sequência de cenas. Uma das mais recentes produções cinematográficas que recorrem a esta técnica é o espetacular"Arca Russa", do diretor Alexandr Sokurov, uma verdadeira viagem pelos salões do museu Hermitage de São Petersburgo, que corresponde também a uma viagem pela história russa, através de três séculos: tudo em um único plano-sequência, de cerca de 90 minutos.   
Entre muitos filmes que lançam mão do plano-sequência, há dois que o fazem para retratar o drama da guerra e o desastre que ela provoca, mesmo quando a batalha foi vitoriosa. O primeiro é um filme de 2007, "Desejo e Reparação" ("Atonement", na versão original), dirigido pelo britânico Joe Wright. Vencedor do Globo de Ouro de melhor filme dramático em 2008, o longa é uma adaptação do livro homônimo do também britânico Ian Mc Ewan, que discute sentimentos de amor, culpa e arrependimento, tendo como pano de fundo a sociedade inglesa da primeira metade do século XX.
O filme, no plano-sequência em questão, mostra Robbie em sua peregrinação pela praia, em busca de uma saída, e assim somos apresentados ao drama de milhares de soldados acuados naquele pequeno espaço vital, como ele. A câmera acompanha o protagonista e seus companheiros esbarrando com esta situação, aparentemente sem salvação. Há quem chore, quem brigue, quem beba e quem tente eliminar todas as potenciais presas dos nazistas, como cavalos e veículos. Um grupo de soldados, num coreto, entoa um hino religioso, talvez numa tentativa de transmitir força e esperança ao resto das tropas. Ao redor, somente máquinas de guerra inservíveis, areia, fumaça e até uma espectral roda gigante, paradoxal símbolo de uma diversão agora impossível. O resultado é um sugestivo exercício cinematográfico, aliado a mais uma exposição do que é o homem diante de uma condição extremada como a guerra.
Ainda restando no âmbito da cinematografia britânica, outro plano-sequência memorável sobre um evento bélico se encontra quase no final do filme "Henrique V", dirigido por Kenneth Branagh. Realizado em 1989, é uma adaptação para o cinema da homônima peça de Shakespeare. O longa reconstrói a jornada do rei inglês, interpretado pelo próprio Branagh, em sua luta contra os franceses, durante a Guerra dos Cem Anos. A sequência se refere aos momentos sucessivos à batalha de Azincourt, no norte da França, travada em 25 de outubro de 1415, dia de São Crispim, entre o exército inglês (15 mil homens) e as muito mais numerosas tropas francesas (cerca de 50 mil). Shakespeare (Branagh também) põe na boca de Henrique V um breve discurso na véspera da batalha: "Aquele que sobreviver esse dia e chegar à velhice, a cada ano, na véspera desta festa, convidará os amigos e lhes dirá: "Amanhã é São Crispim". E então, arregaçando as mangas, ao mostrar-lhes as cicatrizes, dirá: "Recebi estas feridas no dia de São Crispim." O confronto se deu num terreno transformado em atoleiro pelas fortes chuvas, mas onde a habilidade dos arqueiros britânicos se sobressaiu, permitindo a derrota do exército inimigo, que sofreu perdas enormes.
A vitória inglesa é celebrada através de um canto religioso, o “Non nobis, Domine” ("Não a nós, Senhor"), que atribui somente a Deus a glória pelos sucessos humanos, nesta circunstância o triunfo em batalha. Entoada por um único soldado no começo da sequência, a música é cantada por cada vez mais vozes, transformando-se num crescendo ao longo do plano-sequência, durante o qual o espectador acompanha Henrique V. O rei, embora esgotado pela luta, ainda encontra forças para carregar nos ombros um jovem soldado morto e atravessar todo o campo de batalha, em meio a lama, sangue, feridos e cadáveres, lanças e flechas, até conseguir depor o corpo perto da bandeira inglesa. Como um triste cortejo, soldados exaustos acompanham os passos do rei, numa mistura de sentimentos, onde ao orgulho pela vitória se sobrepõe a consciência de que se tratou de um verdadeiro milagre divino e que mesmo assim custou demasiadas vidas humanas. Aqui o espectador também é transformado em mais um soldado do exército inglês, participando dos momentos finais daquela histórica batalha.


terça-feira, 19 de junho de 2012

Cabra Marcado Para Morrer - Resenha.






CABRA MARCADO PARA MORRER
Direção: Eduardo Coutinho.
Ano de produção: 1962 – 1984
Lançamento do filme: 1984
Editora: Globo filmes
Duração do filme: 154 minutos
Narração: Ferreira Gullar, Tite Lemos e Eduardo Coutinho
ELENCO: Elisabeth Teixeira e família, João Virgíneo da Silva e os habitantes de Galiléia (Pernambuco).

Eduardo de Oliveira Coutinho nasceu em São Paulo, 11 de maio de 1933, é cineasta, considerado um dos mais importantes documentaristas da atualidade. Seu trabalho caracteriza-se pela sensibilidade e pela capacidade de ouvir o outro, registrando sem sentimentalismos as emoções e aspirações das pessoas comuns, sejam camponeses diante de processos históricos (Cabra Marcado para Morrer), moradores de um enorme condomínio de baixa classe média no Rio de Janeiro (Edifício Máster), metalúrgicos que conviveram com o então sindicalista Luís Inácio Lula da Silva (Peões) entre vários outros. Autor de um dos filmes mais importantes do cinema documental brasileiro, Cabra marcado para morrer (1984), prêmio da crítica internacional do Festival de Berlim, melhor filme no Festival du Réel, em Paris, e no de Havana, entre muitos outros. Estudou cinema no Institut des Hautes Études Cinematographiques (IDHEC) de Paris, em meados dos anos 50, e voltou ao Brasil em 1960, e se engajou no Cinema Novo. Começou como gerente de produção de Cinco vezes favela (1962) e como cor roteirista de A falecida (1965), de Leon Hirszman. Em 1962, iniciou e viu interrompida, pelo golpe militar, as filmagens de Cabra marcado para morrer (que só seria retomado em 1980 e concluído em 1984). Em seguida, dirigiu três filmes de ficção: O pacto, episódio do longa-metragem ABC do amor (1966), O homem que comprou o mundo (1968) e Faustão (1970). Dirigiu documentários para o Globo Repórter, entre eles Seis dias de Ouricuri (1976), Teodorico, o imperador do sertão (1978) e Exu, uma tragédia sertaneja (1979). A partir dos anos 80, passou à direção de documentários, entre eles, Volta Redonda, memorial da greve (1989), Boca do lixo (1994), Babilônia 2000 (2000) e Edifício Máster (2002). O longa Moscou (2009) – que retrata o processo de ensaio de uma peça pelo grupo Galpão –, recebeu o prêmio da crítica de melhor filme documentário do Festival Paulínia de Cinema, em 2009.
Eduardo Coutinho cursou Direito em São Paulo, mas não concluiu. Em 1954, aos 21 anos, teve seu primeiro contato com cinema no Seminário promovido pelo MASP e dirigido por Marcos Marguliès. Trabalhou como revisor na revista Visão (1954-57) e dirigiu, no teatro, uma montagem da peça infantil Pluft, o Fantasminha, de Maria Clara Machado. Ganhou um concurso de televisão respondendo perguntas sobre Charles Chaplin. Com o dinheiro do prêmio, foi para a França estudar direção e montagem no IDHEC, onde realizou seus primeiros documentários. De volta ao Brasil em 1960, teve contato com o grupo do Cinema novo e integrou-se ao Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE). No núcleo dirigido por Chico de Assis, trabalhou na montagem da peça Mutirão em Nosso Sol, apresentada no I Congresso dos Trabalhadores Agrícolas que aconteceu em Belo Horizonte em 1962. Foi gerente de produção do primeiro filme produzido pelo CPC, o longa-metragem de episódios Cinco Vezes Favela. Escolhido para dirigir a segunda produção do CPC, Coutinho começou a trabalhar num projeto de ficção baseado em fatos reais, reconstituindo o assassinato do líder das Ligas Camponesas João Pedro Teixeira, a ser interpretado pelos próprios camponeses do Engenho Galiléia, no interior de Pernambuco, inclusive a viúva de João Pedro Teixeira, Elizabeth Teixeira, que faria o seu próprio papel. O filme se chamaria Cabra Marcado para Morrer, e chegou a ter duas semanas de filmagens, até o Golpe Militar de 1964. Parte da equipe foi presa sob a alegação de comunismo e o restante se dispersou, interrompendo a realização do filme por quase 20 anos.
Em Abril de 1962 inicia-se a produção de: Cabra Marcado Para Morrer, dirigido por Eduardo Coutinho, o filme inicia com uma musica mostrando um país subdesenvolvido, na temática fílmica mostra a população suburbana e crianças trabalhando o que não é muito diferente de hoje, o que mostra o poder apenas nas mãos de poucos, esse que contaria a história política do líder da liga camponesa de Sapé (Paraíba), João Pedro Teixeira, assassinado em 1962. No entanto, com o golpe de 31 de março, as forças militares cercam a locação no engenho da Galiléia e interrompem as filmagens. No enterro de João Pedro Teixeira, Elisabeth Teixeira sua esposa, compareceu com seis dos seus nove filhos, os trabalhadores se reuniram em frente à liga camponesa de sapé, sendo na época a maior do nordeste, com mais de sete mil sócios.
João Pedro Teixeira morreu com quarenta e quatro anos de idade, ele e todos os outros membros da liga, lutavam por direitos trabalhistas e por uma melhor qualidade de vida no campo. Em 15 de janeiro de 1964, houve um conflito entre policias e trabalhadores de uma usina e camponeses no povoado Sapé, onze pessoas morreram nesse conflito e a região foi ocupada por policiais, o que se tornou impossível a realização da filmagem no local. Foi no engenho Galiléia em Pernambuco aonde tinha nascido à primeira liga camponesa em 1955, que Eduardo Coutinho continua a filmagem. Em 26 de fevereiro de 1964, foi iniciada a primeira tomada do filme com camponeses que acabara de conseguir suas terras após quatro anos de luta. João Mariano, que fez o papel de João Pedro Teixeira, não era de Galiléia, no projeto de filmagem com os participantes originais, só restaram Elisabeth e seus filhos. Em 01 de Abril de 1964, o trabalho foi interrompido, Galiléia foi invadida pelo exército, os principais lideres camponeses e alguns membros da equipe também foram presos, mas alguns conseguiram fugir para Recife, nesse período todos os materiais da filmagem foram aprendidos, mais a maior parte das filmagem foram salva por ter sido enviado antes para o laboratório no Rio de Janeiro. Só em Fevereiro de 1981, foi possível o retorno as filmagem, apenas dois camponeses que iniciaram o filme estão vivos, José Hortêncio da Cruz e João Virgíneo Silva.
O começo da narrativa de um dos camponeses narra a lutar que todos da região vivem, o dilema de enterrar os parentes mortos, aonde só tinha um caixão na prefeitura para servir a comunidade, o caixão servia apenas para levar o corpo ao cemitério e logo teria que devolver o caixão à prefeitura, o famoso “Nono”. Galiléia era divida em lotes nos quais moram 150 famílias que pagavam anualmente ao dono do engenho para poder usar a terra. O dono do engenho decidiu expulsar todos os moradores de Galiléia após descobrir que a liga não se preocupavam apenas com os votos, mais tinha outras lutas para conquistar. Logo os moradores dessa liga decidiram contratar um advogado para representar os camponeses. A desapropriação por interesse social de Galiléia foi feita em Dezembro de 1959 através de justa e prévia em dinheiro como previa a constituição, mas ate hoje os camponeses não tem as escritura de suas terras.   
Dezessete anos depois, o diretor Eduardo Coutinho volta à região e reencontra a viúva de João Pedro, Elisabeth Teixeira -- que até então vivia na clandestinidade e muitos dos outros camponeses que haviam atuado no filme antes brutalmente interrompido.
As Ligas Camponesas vinham sendo criadas desde meados dos anos 50 com o objetivo de conscientizar e mobilizar o trabalhador rural na defesa da reforma agrária. Durante o governo de João Goulart (1961-64), o número dessas associações cresceu muito e, junto com elas, também se multiplicavam os sindicatos rurais. Os camponeses, organizados nessas ligas ou em sindicatos ganharam mais força política para exigir melhores condições de vida e de trabalho.
A renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, após apenas sete meses de governo, abriu uma grave crise política, já que seu vice, João Goulart, não era aceito pela UDN e pelos militares, que o acusavam de promover agitação social e de ser simpático ao comunismo. Assim como esses setores eram contrários à posse de Jango, existiam outros que defendiam o cumprimento da Constituição, como o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.
O impasse foi resolvido com a adoção do regime parlamentarista de governo, aprovado pelo Congresso. Com esse regime, Jango era apenas chefe de Estado, sendo que o poder efetivo de decisão estava nas mãos de um primeiro-ministro escolhido pelos deputados e senadores. Iniciava-se assim um dos períodos mais obscuros da história do Brasil, com 21 anos de ditadura militar que promoveu uma violenta onda de repressão sobre os movimentos de oposição, além de ter gerado uma menor concentração de renda, agravando a questão social, produzindo mais fome e miséria. Os "anos de chumbo" da ditadura ocorreram após o AI5 (Ato Institucional número 5), no final do governo Costa e Silva (1968), estendendo-se por todo governo Médici (1969-1974).
Diante da crise econômica, o regime parlamentarista imposto pelos conservadores, se mostrava ineficiente, com a sucessão de vários primeiros-ministros, sem que a crise fosse atenuada. Esse cenário fortalecerá o restabelecimento do presidencialismo, conquistado através de um plebiscito em 06 de janeiro de 1963. Reassumindo a plenitude de seus poderes, Jango lançou as reformas de base apoiadas por grupos nacionalistas e de esquerda. Elas incluíam a reforma agrária, a reforma do sistema bancário, a reforma tributária e a reforma eleitoral.
Muitos comícios foram organizados em apoio às reformas, destacando-se um comício-gigante realizado na Central do Brasil do Rio de Janeiro em 13 de março. A mobilização popular nos comícios assustava as elites que, articuladas com as forças armadas e apoiadas pelos setores mais conservadores da Igreja, desferiram um golpe de Estado em 31 de março de 1964.
No retorno a Galiléia, a equipe do filme organizou o material que restou das filmagens de 1962 e 64, para mostrar aos moradores de Galiléia, os atores do filme eram convidados especiais para essa projeção. O que mais interessava aos atores eram identificar os mesmos, dezessete anos mais novos. O filme mostra a vida dos moradores da Galiléia e também dos ex-participantes do filme que se encontra em outros estados, trabalhando em fabricas. Um dos únicos atores que sabiam ler e que morava em Galiléia era Cícero e que também foi assistente de produção do filme. Elisabeth Teixeira estava desaparecida desde 64, ninguém sabia onde ela estava, o único que sabia era Abraão seu filho mais velho, que também é jornalista, Abraão morava em Patos no sertão da Paraíba, depois de quatro hora de viagem chagaram a São Rafael, onde Elisabeth morava com seu filho Carlos e ela tinha mudado o nome para Martha Maria da Costa.
Elisabeth Teixeira casou com João Pedro em 1942, se conheceram em um barracão e depois fugiram, João Pedro trabalhava em um pedreira e logo depois começou a lutar pelos sindicatos rurais, depois foi para Paraíba e começou a fundar a liga camponesa de Sapé em 1958 e em 1962 ele foi assassinado, moravam no sitio do pai de Elisabeth, ele sabia ler e escrever, era de religião Evangélica, e Elisabeth era Católica.
João Pedro Teixeira foi morto em uma emboscada no dia 02 de Abril de 1962, por dois soldados da policia militar, um vaqueiro da fazenda do latifundiário Agnaldo Veloso Borges, suplente de deputado estadual, o juiz de Sapé decretou a prisão preventiva de Agnaldo apontado como um dos mandantes do crime, este se livrou da prisão e do processo assumindo uma cadeira na assembléia legislativa do estado de Pernambuco, Agnaldo era o quinto suplente, um deputado e quatro suplentes renunciaram no mesmo dia para Agnaldo tomar posse. Em março de 1965, os dois policiais que mataram João Pedro foram absorvidos por unanimidade pelo tribunal do júri.
João Mariano era o único dos atores que não tinha participação do movimento camponês, ele foi expulso do engenho estava desempregado e era participante de uma congregação de uma igreja Batista em Vitoria de Santo Antão. Ele falou dos movimentos das ligas camponesas, das lutas políticas e por terras entre muitos produtores rurais.
Após a morte de João Pedro, Elisabeth foi para Brasília depor na comissão de inquérito, foi presa por varias vezes, liderou a liga, mais logo deixou a liga e saiu da cidade. O exército da Paraíba invadiu Galiléia a procura de três camponeses: João Virgíneo, Zezé e Rosário e também as pessoa que estavam filmando, pensando que esses fossem estrangeiros revolucionários que apoiavam os movimentos camponeses. Levaram todos os materiais de filmagem de Cabra Marcado para Morrer, e tudo que eles encontravam, restando apenas uma câmara que foi enterrada, e dois livros que ficaram na casa de um morador de Galiléia, e nessa invasão alguns dos integrantes da equipe de filmagem foram presos. O exército queria armas que supostamente os moradores da região tinham para fazer a revolução, entregue pelos comunistas Cubanos. No depoimento o morador falou aos policiais que o que eles tinham era fome, doenças e precisavam apenas de terras para trabalhar e não armas para brigar e matar. Mostrando assim que trabalhadores lutar apenas com as mãos e com a voz, mais como são fracos ficam sempre sem serem ouvidos, e no mesmo depoimento ele aponta aos policiais quem tem armas na região, os dois fazendeiros, dizendo ele, esses dois têm muitas armas, vá lá pegar, pois esses têm muitas armas eles são cangaceiros, e os policiais retomam dizendo, essas armas que eles têm são deles, queremos as tuas, nos contaram que vocês têm mais de cinco mil armas para fazer a revolução.
João Virgíneo passou sete dias escondido, quando não pode mais, ele se entregou e passou seis anos preso, ficou sendo submetido à humilhação, perdeu um olho e ficou surdo de um ouvido de tanto apanhar, ficou vinte e quatro horas dentro de uma força, perdeu um carro para os policiais e muito mais, condenado a dez anos e seis meses de prisão João Virgíneo foi solto em 1970, após cumprir seis anos de sua pena, a casa de detenção do Recife foi desativada e transformada em casa da cultura em 1976.
No dia 3 de abril de 1964, uma semana antes da prisão de João Virgíneo, Elisabeth Teixeira fugiu para Recife juntamente com a equipe do filme, não podendo voltar para Sapé, aonde seria presa, Elisabeth mudou o seu nome para Marta, refugio-se na casa de Manoel Sarafim em Japoatão, fez passa por cunhada de Manoel Sarafim, não saia de casa, dois meses depois ela se entregou as autoridade da Paraíba, ficou presa por quatro meses e depois foi morar na casa do pai. Logo após ser solta, os policiais voltaram procurar para prender, ela sabendo que iria ser torturada, fugiu com Carlos o seu filho mais novo. Em setembro de 1964, logo após a libertação de Elisabeth, João Alfredo Dias (o negro Juba) e Pedro Inácio de Araujo, fundadores da liga de Sapé desapareceram logo depois de saírem da prisão, três dias depois do desaparecimento um jornal informava que dois corpos foram encontrados mutilados em uma estada do interior da Paraíba, tratavam de execução do esquadrão da morte, os corpos nunca foram identificados. Em 1962, as perseguições não se limitavam apenas a João Pedro e Elisabeth, três meses depois do assassinato de João Pedro, João Pedro seu filho sofreu um atentado levando três tiros chegando a falecer. Em dezembro de 1962, oitos meses após a morte de João Pedro Teixeira, Marluci a filha mais velha morreu de ressentimento da morte do pai, tomou arsênico. Oito filhos de Elisabeth foram criados por familiares de Elisabeth, (pais e tios), Abrão morava na capital aonde estudava e Isaac morava em Cuba desde 1963, como bolsista do governo cubano. Após a descoberta onde Elisabeth morava, ela retornou para Sapé para encontrar os seus outros filhos.
João Pedro Teixeira nasceu em uma cidade chamada Guarabira, foi enterrado no cemitério de Sapé, no seu tumulo não se encontra nada escrito, mais na cruz colocada a beira da estada aonde ele morreu, estar escrito: “Aqui jaz João Pedro Teixeira, marco da Reforma Agrária”, nada se sabe sobre a infância deste e ele ficou órfão de pai e mãe logo cedo, não tem se que uma fotografia dele vivo.
Em 1981, dezessete anos após a fuga de Elisabeth, o produtor do filme começa a procurar dos filhos de Elisabeth, entrevistando cada um. O pai de Elisabeth o Sr. Manoel Justino da Costa, entrou em conflito com João Pedro Teixeira, por cauda de uma pequena propriedade que o Sr. Manoel fendeu a um comerciante, onde João Pedro Teixeira morava com a família, cortando assim as relações familiares. João Pedro Teixeira lutou na justiça pelos direitos de continuar morando no sitio ou de ser indenizado pelas benfeitorias.  A primeira a ser entrevistada foi Maria das Neves Altina Teixeira, conhecida como “Nevinha”, era professora do grupo escolar e morava próximo da casa do avô. Outro entrevistado foi João Pedro Teixeira Filho o “Peta”. Em outubro de 1981, foi entrevistada no estado do Rio de Janeiro, na cidade de Caxias do Sul, baixada Fluminense, outra filha, a Marta, dando continuidade com o filho que moravam em Cuba, Isaac Teixeira estudante de medicina, atreves de uma equipe de televisão local a pedido do produto desse filme. Outro filho o José Eldes, foi entrevistado em maio de 1982, no local de trabalho, uma fabrica, após algumas exigências feitas ao produtor.  No mesmo dia no bairro de Olaria no estado do Rio de Janeiro foi entrevistada outra filha a Marines. Todos em seus depoimentos relataram as lutas, o abandono por parte da mãe, por não poder criar todos os filhos, a família na hora da precisão não apoiaram fazendo com que muitos fossem moram em outros estados, mais que todos tinham os mesmos desejos de poder encontrar a mãe e os irmãos.
Na ultima entrevista com Elisabeth, na cidade de São Rafael, cidade esta em extinção pelo fato do departamento nacional de obras contra a seca, ira criar uma represa na qual a cidade será inundada pelas águas, e a população estar lutando na justiça por melhor indenização de suas casas, pois os pequenos proprietários por não terem os títulos de apropriação de suas terras, acham injustos os valores indenizatórios de suas propriedades, o sindicato rural estar lutando junto aos proprietários.
Ao final da entrevista vários novos amigos de Elisabeth falaram sobre a amizade, o modo de vida que levava com os vizinhos e como ela ensinava ao filhos e ajudava a comunidade, Elisabeth comentava sobre o sindicato rural de São Rafael,  ajudando ao presidente desse sindicato, a perseguição dos latifundiários e políticos aos sindicatos por todo o Brasil. Elisabeth comentou sobre a emoção das filmagem, o reencontro que iria fazer com  os filhos e com os pais. Elisabeth após um mês das gravações deixou São Rafael e foi mora em Patos na Paraíba com seus filhos Abrão e Carlos, e até junho de 1983, Elisabeth só tinha conseguido reencontrar com dois dos seus oito filhos, Nevinha e Peta, ambos morando em Sapé.
O filme mostra o período da ditadura militar, o sofrimento das pessoas pobres, camponeses e industriários lutando por melhores condições de vida e salários, período esses que mostra a lutas pelos sindicatos e ligas camponesas sofrendo perseguições pelos políticos e latifundiários, mostrando que nesse país manda a classe oligárquica, mas que a massa não se cala e vai à luta por melhores condições de vida.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

João Goulart: 30 ano de silêncio.


História, Cinema e Memória.
Goulart, após 1964, foi execrado pela direita, desprezado pela esquerda e solenemente ignorado pela pesquisa universitária.
Jorge Ferreira.

Presidente João Goulart durante
cerimônia da posse

         Um dos melhores documentos para o pesquisador interessado em estudar João Goulart, e que durante muito tempo foi um dos únicos, é o filme Jango de Silvio Tendler. Nas palavras do narrador, o texto do jornalista Carlos Castello Branco traduz o sentimento de seu fim, “O Presidente João Goulart, sem condições de voltar ao Brasil, compelido a deixar a Argentina e aconselhado a não permanecer no Uruguai, morreu como peão perdido à procura de voltar ao seu galpão”.
         O filme Jango, do cineasta Silvio Tendler, foi produzido em 1984. É importante ressaltar que a conjuntura em que o filme é produzido, é marcada pela euforia provocada no processo de abertura política pós-ditadura militar. O filme não trata só de Jango. “O diretor, lembrou que João Goulart existiu e foi protagonista de um momento singular da história do país”. (FERREIRA:2008) Momento singular esse, em que o país viveu o início de seus piores e mais tristes dias de sua história. Jango, com o golpe parte para o exílio, primeiro no Uruguai e depois para Argentina, onde morreria sem poder voltar ao país de origem. A memória do ex-presidente havia sido apagada pela ditadura militar de 1964. Por que?
         O filme lembra que João Goulart participou da política do Rio Grande do Sul e em 1950 tornou-se deputado federal pelo PTB. Logo depois, o então presidente Getúlio Vargas o nomearia Ministro do Trabalho. Como narra no filme “Jango era o sangue novo que Getúlio queria para o trabalhismo”. Em suma, seu possível herdeiro.
         A constituição de 1946 tinha um dispositivo, em que se votava em Presidente, e separadamente para seu vice. Ou seja, era possível que um vice-presidente fosse eleito exatamente pelo principal partido de oposição ao do presidente. E por obra do destino, foi oque aconteceu nas eleições de 1961.
         A maioria da população escolheu o conservador udenista Jânio Quadros para presidência. E para vice o candidato do PTB, João Goulart. Com a renúncia inesperada de Jânio, Jango assume com uma plataforma de governo bastante diferente de seu antecessor. É importante lembrar que apesar do sucesso eleitoral do PTB nos anos 50, o partido vivia um momento de redefinição ideológica. “Em sua convenção de 1957, o PTB assumiu um projeto de cunho claramente reformista (...). No encerramento dos trabalhos, Goulart pronunciou um discurso radical e nacionalista a favor das reformas econômicas e sociais”.(FERREIRA: 2008) E completaria a historiadora Lucília de Almeida Neves Delgado “O PTB conheceu uma real guinada à esquerda da maioria de seus quadros”
         Quando na presidência, Jango, “fez o Brasil viver sua utopia”. A perspectiva de mudanças encheu um “trem de esperanças”, em um país de grandes desigualdades sociais. Para Silvio Tendler, Jango buscava a harmonia social, queria transformar a face perversa e selvagem do capitalismo, o queria mais humano. Seria possível? Democratização do uso da terra, voto do analfabeto, disciplina dos aluguéis, bases justas para o salário mínimo, seriam esses os nortes das Reformas de Base. “Jango, propunha o fim da fome e da miséria em um país em que a justiça sempre foi lado obscuro da democracia”.
         O então presidente Goulart recebia críticas, tanto da direita que o chamava de “inimigo do capitalismo” ou “fomentador da luta de classes”, quanto da esquerda que ansiava por reformas mais profundas. Em depoimento, Aldo Arantes, ex-presidente da UNE no período, afirma que a burguesia e as elites “não engoliam nem as limitadas reformas de base de Jango”. Aldo lembra também para a radicalização vivida, principalmente pela formação na direita de grupos paramilitares de extrema direita, como o M.A.C. Aldo ressalta que era um momento de maior participação democrática no país, em que se buscava resolver problemas de cunho estrutural, como Reforma Agrária e redistribuição de renda, por exemplo.
         De maneira inteligente, Silvio Tendler começa o filme mostrando a visita de João Goulart a China. Vale lembrar o contexto de guerra fria e o suposto alinhamento automático dos países com Washington. Como vice de JK e de Jânio, Jango mostraria para o mundo a peculiaridade da política externa independente brasileira. O então vice presidente seria o primeiro representante latino americano a romper o “gelo” da Guerra fria em sua visita a URSS.
         Certamente as imagens de Jango com Mao Tse Tung e Brejnev ficariam registradas na cabeça das elites e dos militares brasileiros. Jango, ao discursar no Congresso do Povo, mostrava ao mundo como queríamos nossa política externa: “Viva a amizade cada vez mais estreitam entre a China Popular e os Estados Unidos do Brasil, viva a amizade dos povos asiáticos, africanos e latino-americanos!”.
         O historiado Jorge Ferreira, mostra que o “sentimento reformista e a expectativa de um país mais justo manifestaram-se também nas urnas. Nas eleições legislativas de 1962, o PTB passou de 66 para 116 deputados, reduzindo o numero de cadeiras dos partidos conservadores, enquanto o plebiscito que decidiu pela volta do sistema presidencialista, em janeiro de 1963, com o apoio de um amplo leque político, inclusive militar e empresarial, consagrou a liderança de Jango.” (FERREIRA: 2008).
         Entretanto, um grande esquema, sobretudo de comunicação político ideológico, era montado via IPES-IBAD. Mesmo assim, a propaganda não evitou a vitória do PTB em 62 e 63, porém estimulou e radicalizou a sociedade. O Presidente, sem o apoio do PSD, dos Estados Unidos, que como mostra no filme, negava empréstimos ao presidente, mas negociava com os governadores de oposição como Carlos Lacerda, aproximou-se dos setores mais progressistas do PTB. A tradução disso seria o comício da Central do Brasil.
         Para o historiador começaria aí uma nova história, em que Jango foi interpretado e lembrado somente pelo fracasso na mobilização social. “Nada de mobilização sindical, camponesa e popular em torno das reformas, nada de sociedade que apoiava o presidente em seu programa”. Para a esquerda revolucionária, o apoio do movimento sindical e dos trabalhadores seria “peleguismo”, “paternalismo”, ou até mesmo “desvio da linha justa e consciências desviadas dos seus “verdadeiros” e “reais” interesses” O Golpe que viria da esquerda, veio dos militares conservadores. Em fevereiro de 1962, Wanderley Guilherme dos Santos publicava o número 5 do “Cadernos do povo brasileiro”, com o título Quem dará o Golpe no Brasil – “Que as forças do povo disponham sua linha de frente da melhor forma possível e que lutem de modo mais encarniçado. Já está em marcha o golpe contra o povo; que se ponha em marcha, então, o povo contra o golpe, no Brasil” (SANTOS:1962).
         Mais do que um golpe militar, a queda de João Goulart representava a derrota de um projeto. Com ele perdeu a esquerda, os movimento sociais, urbanos e rurais. Perderam intelectuais como Darcy Ribeiro, Celso Furtado e San Thiago Dantas que trabalhavam diretamente em seu governo. Perderam todos aqueles que acreditavam que o sonho de um Brasil mais justo e igualitario estava caminhando para sua concretização.
         Em recente livro publicado no final de 2006, Oswaldo Munteal, Jacqueline Ventapane e Adriano de Freixo escrevem, “Nesse momento, o projeto desenvolvimentista iniciado três décadas antes estava buscando incorporar de fato os setores populares, dentro de uma perspectiva nacionalista e reformista, considerando essa participação popular uma condição sine qua non para o desenvolvimento do País.” (MUNTEAL:2006)
         Entretanto não podemos esquecer que parte significativa da população civil brasileira apoiou o Golpe de 1964. O exemplo mais marcante é a Marcha da Família com Deus e pela Liberdade. Também não podemos esquecer a influencia dos meios de comunicação que expunham claramente sua insatisfação com o atual presidente. A resistência da esquerda, ou o suposto golpe planejado pelo governo se mostrou inexistente. João Goulart não queria uma guerra civil e um “banho de sangue”. ((MUNTEAL:2006)  Era o fim de um curto período democrático. O fim de um projeto de desenvolvimento, um projeto de nação. “O Golpe de 1964 acelerou a dependência, travou o desenvolvimento e desarticulou a sociedade civil numa proporção nunca antes vista na história do Brasil.
          O pensamento sobre o nosso país paralisou nas décadas seguintes. As vertentes críticas do modelo de desenvolvimento saíram politicamente derrotadas numa luta árdua pela autonomia do Brasil diante dos interesses internacionais. Os modelos de interpretação da Cepal com Prebish e Furtado, da teoria da dependência representada por Santos, Marini, Frank e Amin, assim como a tese de um desenvolvimento dependente e associado assinada por Faleto, Fernando Henrique e Weffort, assinalam um período em que o Brasil representava um problema para a Universidade. Havia, ainda que com limites, uma conexão entre os centros de pensamento e reflexão e a sociedade.” (MUNTEAL:2006).

Referências.
FERREIRA, Jorge (org.). Como as sociedades esquecem: Jango. In: a História vai ao cinema.Editora Record. 2008.
MUNTEAL Filho, Oswaldo (Org.) ; VENTAPANE, Jacqueline (Org.) ; FREIXO, Adriano de (Org.) . O Brasil de João Goulart: um projeto de Nação. Rio de Janeiro: Contraponto e Editora PUC-Rio, 2006. 252 p.
SANTOS, Wanderley Guilherme. Quem dará o Golpe no Brasil. 1962.

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Texto extraído de Torres, Pedro Henrique. João Goulart – 30 ano de silêncio. Revista Agora. Nº1. 2007. (com adaptações).